Estadão

A guardiã dos documentos históricos de SP

São Paulo estava em transformação no começo do século passado. A capital ganhava a Estação da Luz, o Parque Anhangabaú e o Teatro Municipal, que mudaram de vez a cara do centro. Comandada pelo prefeito Antonio da Silva Prado, a cidade também viu nascer nessa época a sua primeira biblioteca pública, ainda dividida entre a Prefeitura e a Câmara. O ano era 1907 e, desde então, atos, memorandos e projetos de lei passaram a ser tratados como documentos históricos, hoje disponíveis à população pelas mãos de uma guardiã, a bibliotecária Adriana de França Silva.

A funcionária chegou à Câmara quase 90 anos após a ordem de Prado. Ela conta que o equipamento foi oficialmente subordinado aos vereadores em 1919, mas dali em diante abriu, fechou e mudou de endereço três vezes. As idas e vindas provocadas pelo fechamento do Legislativo durante o Estado Novo, instaurado em 1937 por Getúlio Vargas, levaram à perda de parte do material, mas o que restou foi bem preservado por Adriana, que hoje é secretária de Documentação.

A bibliotecária de 51 anos e sua equipe restauraram e organizaram todo o acervo reunido de 1892 a 1937. "Ele já estava distribuído por tipo, como ofícios e moções, mas não havia a separação por palavra-chave, que é o que permite uma pesquisa mais direta, do tipo avançada. Tínhamos de procurar documento por documento dentro de caixas", lembra.

O trabalho foi realizado entre 2015 e 2017, época em que os originais também foram restaurados. "Nós passamos a acondicionar esses documentos de outra forma para que eles permaneçam intactos. Estão agora embalados em papel alcalino, o que ajuda nesse processo, porque boa parte deles não têm sequer capa", diz.

<b>ACERVO</b>

Ao todo, 12.997 documentos históricos foram "salvos". Um alívio para quem já teve de cobrir livros em dias de tempestade. "Chovia dentro da biblioteca quando eu comecei a trabalhar aqui. A gente corria para logo proteger os livros com plástico para que não estragassem. Era um desespero, que só acabou quando reformaram a laje", conta Adriana, em referência a manutenções no Palácio Anchieta, onde está sediada a Câmara desde 1972.

Atualmente, o acervo reúne mais de 22 mil volumes em local amplo, arejado e com móveis adequados. Os visitantes podem conferir mapas de São Paulo, atas da Câmara, edições do Diário Oficial da Cidade e até mesmo recortes de jornais relacionados ao trabalho dos atuais e ex-vereadores. O prefeito Ricardo Nunes (MDB), por exemplo, tem a sua pasta guardada pelos oito anos como parlamentar.

O registro urbanístico é um dos mais procurados por estudiosos da metrópole. Os documentos originais mais antigos armazenados no Palácio Anchieta foram produzidos a partir da Primeira República, quando a administração municipal foi dividida em intendências. Eram quatro: Justiça e Polícia; Higiene e Saúde Pública; Obras Municipais; e Finanças. Só em 1898 é que os serviços foram centralizados na figura do prefeito. E o primeiro, Antonio Prado, ficou no poder por 11 anos.

Adriana diz não saber o nome de todas, mas reconhece que chegou a decorar algumas leis. "Isso de tanto que a gente consultava para atualizar as antigas fichas. É a equipe da biblioteca que sinaliza, por exemplo, quando uma lei é revogada ou atualizada. A leitura tem de ser muito minuciosa", disse ela, já prestes a se aposentar. "Mas meu legado continua. Fui chefe durante oito anos, mas não é ser chefe que dá prazer. É fazer um trabalho que fica."

<b>BIBLIOTECA DA CÂMARA</b>

Viaduto Jacareí, 100, sala 207
Telefones: (11) 3396-4331/4741
Horário de atendimento: segunda a sexta-feira, das 10h às 18h30.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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