A comoção instalada no Brasil a partir dos terríveis episódios vivenciados no Rio de Janeiro nesta semana leva-nos, invariavelmente, a diferentes reflexões. A guerra civil deflagrada na “cidade maravilhosa”, apesar das autoridades incompetentes não admitirem tratar-se de uma guerra, naturalmente é creditada a ação de quadrilhas especializadas, que integram algumas facções criminosas que dominam o tráfico de drogas em terras cariocas. Em tese, poderia ser considerado um caso isolado, sem qualquer relação com nosso cotidiano. Mas não é bem assim.
O povo do Rio de Janeiro está mais propenso à ação dos marginais por uma série de fatores, como o geográfico, já que os morros onde se espalham as favelas estão lado a lado com grandes bairros residenciais do município, aproximando demais o perigo real das classes média e alta. Qualquer tiro dado para o alto pode atingir um apartamento de alto padrão localizado em um bairro nobre, por exemplo.
Mas nós paulistas também somos vítimas diárias de toda a violência que imprea no país, que tem como pano de fundo o tráfico e uso de drogas. Não é novidade para ninguém que trata-se de um mal que se espalha em cadeia de forma muito rápida. Por trás de cada assalto ou furto, praticado por bandidos, quase sempre existe alguma ação ligada às drogas, cujo consumo cresce a cada dia, atingindo diretamente as famílias brasileiras.
Desta forma, não é exagero afirmar que tudo o que ocorre no Rio de Janeiro neste instante tem a participação direta da sociedade brasileira. Longe de querer culpar as pessoas de bem de todos esses problemas, mas seria hipócrita descartar que por trás de cada traficante estão os usuários de drogas. Gente que se apresenta como sendo de bem mas que não pensa duas vezes antes de acender um cigarrinho de maconha, cheirar uma carreira de cocaína ou fumar uma pedra de crack, entre outras. Tudo em nome de momentos de prazer ou loucura, mas sem assumir as devidas responsabilidades.
Sim. Por mais que não queiram enxergar, esses usuários – que foram levados ao uso permanente ou eventual dos mais diversos tipos de drogas – estão financiando toda essa bandidagem que hoje coloca o Rio de Janeiro em estado de sítio. Esta é uma ferida que a sociedade não gosta de tocar. Mas é verdadeira. Não se pode apenas atribuir os problemas aos poderes públicos, acusando os governos de não agirem adequadamente, se o sujeito vai para a rua em busca de um traficante, que vai abastecê-lo.
Neste momento de guerra, nada como clamar pela paz. Torcer para que as ações impostas pelas forças dos governos estadual e federal consigam neutralizar os comandos paralelos e, desta forma, liquidar com as lideranças do mal. Porém, mais do que isso, para que a ordem seja mantida tanto em médio como em longo prazo, que a sociedade olhe à sua volta e passe a assumir suas responsabilidades. Se não houver consumo de drogas, não haverá tráfico. Sem tráfico, menos violência nas ruas e muito mais paz, principalmente, de espírito.