Opinião

A hora e a vez dos carros flex

Depois de quase uma década dominando o mercado de automóveis nacionais, os carros conhecidos como flex, que podem ser abastecidos tanto com álcool como com gasolina, estão tendo a grande oportunidade de ditar as regras do mercado. Na década de 80, quando o governo instituiu o programa batizado de Pró-Álcool e milhões de consumidores foram incentivados a trocar seus veículos movidos à gasolina por novos movidos com o combustível derivado de cana, não demorou muito para que o brasileiro ficasse na mão. Na primeira crise, os usineiros deixaram de produzir álcool.


Como o consumidor não tinha opção, com a escassez do produto, os preços foram às alturas tornando o combustível inviável. Quem acreditou no governo na época, ficou com o mico na mão. Ninguém queria ver na frente carros movidos a álcool. Em pouco tempo, o comércio de movidos a gasolina voltou a ganhar espaço a ponto de ninguém mais acreditar na possibilidade da volta do combustível “verde”.


Com o avanço da indústria automobilística e emprego de novas tecnologias, surgiu o sistema que permitia o uso de gasolina e álcool no mesmo motor. Numa jogada de marketing, o combustível passou recentemente a ser chamado de etanol. Quase a totalidade de automóveis produzidos no Brasil, de dez anos para cá, foram ganhando a motorização flex. Recentemente, até alguns importados oferecem esse tipo de motor. Por vários anos, os donos de carros flex preferiram utilizar o álcool, já que – com preços baixos – eles, mesmo consumindo mais, ofereciam uma boa compensação em relação à gasolina.


Porém, de dois ou três anos para cá, o reverso da moeda, que chega com mais força neste momento. Sem políticas claras de incentivo à produção do etanol, que acompanhasse a evolução da indústria automobilística, mais uma vez os usineiros tentaram das as cartas no jogo. Diminuiram a produção do combustível como forma de forçar altas nos preços.


A tática, que funcionou lá atrás, tende a fazer água agora. Simples: os consumidores entenderam a importância do flex e passaram a preferir a gasolina. No desespero, os produtores do etanol agora querem forçar o governo a aumentar o valor do derivado de petróleo para que seu produto volte a ser compensador. Cabe então aos consumidores não aceitarem esse jogo sujo. Caso contrário, teremos tanto álcool quanto a gasolina lá nas alturas.

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