Coluna do jornalista Oswaldo Coimbra, professor doutor em Comunicação
​Em reação às interferências da Igreja Católica nas pesquisas sobre DNA, uma corrente de notáveis biólogos passou a pregar abertamente o ateísmo. Mas, para as pessoas tocadas pela sensação de que a vida é um misterioso milagre, aquelas pessoas naturalmente dotadas senso de religiosidade, aquele senso que lhes dá a sensação de serem partícula do Cosmo, sem, no entanto, com isto, se sentirem obrigadas a aceitar qualquer religião institucionalizada, esta discussão milenar entre a Igreja Católica e a Ciência não leva a nada.
​São, de fato, obscuros e pouco convincentes os argumentos pretensamente objetivos e racionais com que certo tipo de Teologia sustenta a afirmação da existência de Deus.
​Por outro lado, não se sabe que as descobertas científicas tenham provocado o êxodo das igrejas, que seria razoável esperar, se esta fosse a contenda que vale a pena travar. O piedoso convicto continua sendo-o, à margem das temporárias, porque continuamente retificadas, verdades científicas.
​Talvez porque os caminhos das ciências do universo material não-humano só podem ser trilhados até certo ponto, nesta questão. Já os da Psicologia, no que ela se confunde com as reflexões dos existencialistas, parecem bem mais abertos.
​Não é, nos parece, na realidade externa, na criação do Cosmo, que Deus pode ser encontrado. Ou Ele está dentro de cada um de nós ou não está em lugar algum.
​Se somos finitos – percebemos que após três ou quatro gerações, a lembrança de nossa passagem por este planeta estará apagada, como um risco na água -, se somos solitários a ponto de percebermos a separação de nossos corpos, inclusive na comunhão do ato amoroso, cada corpo com sua história e carregado com seus projetos; se nos sentimos insignificantes, dispensáveis, entre os bilhões de seres que se movimentam sobre a Terra, como não desejar que uma entidade imune ao tempo, absorvível pelo nosso recôndito, e, sobretudo, impressionantemente poderosa, tenha sido a mão que nos moldou? Não é justificável tal desejo?
​Portanto, se, em vez de Deus ter criado o homem foi o homem quem O criou, ele fez isto forçado pela angústia da sua fragilidade, para, depois, com ciúmes, cultuá-Lo, temeroso do peso da verdade por Ele amenizada. Contra o medo de existir sem motivo o que podem fazer as verdades das Ciências? Deus é vivência, não é fórmula para uma equação algébrica. Os orientais sabem disso, e, por esta razão pouco falam sobre Ele. Ele é o Inominado.
​Por conseguinte, o atual discurso ateísta surgido no campo da Biologia quando muito poderá envolver a suposição da existência de um ser concreto, onipotente, eterno e onisciente. Mas, sem dúvida, passa longe da questão mais importante: por que, em todas as épocas e lugares, há seres humanos que cultuam a ideia da existência de Deus. Se é discutível a existência de Deus, a existência, a permanência e a frequência da ideia de Deus ninguém pode sequer questionar. E, obviamente, isto tem um significado que precisa ser levado em conta.