Judah Levy, entre os anos de 1947 e 1952, enfrentou o desafio de construir os primeiros prédios com mais de 10 andares, em Belém – os edifícios Piedade e Renascença – quando tinha 31 anos idade.
No período, a cidade ficava, à noite, imersa numa semiescuridão, devido à precariedade dos serviços prestados pela Parah Eletric. Para as obras de Judah, a empresa não podia fornecer energia elétrica.
Ele teve de armar um conjunto de força, comprando um motor tensional. Com o motor, alimentou bomba de água, serra e elevador de carga. E a britadeira, providência indispensável porque tampouco existiam, no comércio local, pedras britadas suficientes para as duas obras. Aliás, nem cimento. Nem ferragens. Nem revestimentos. Nem azulejos. Nem sanitários.
Tudo Judah teve de comprar no Rio de Janeiro e em São Paulo. E, depois, transportar para Belém, por navios, já que a estrada Belém-Brasília, ainda não fora aberta.
A falta mais dramática era a de cimento. Em Belém havia em pequena quantidade, que mal atendia às necessidades das obras oficiais. Judah só foi pode contar com o material, importando-o da Alemanha, da Holanda e da Bélgica.
Quando as obras começaram a ficar elevadas, os operários passaram a ter medo de subir nelas. Judah precisou cercá-las inteiramente com andaimes externos para que não fossem paralisadas.
Os prédios, por fim, estavam quase prontos. Ele já podia oferece-los como garantia do pagamento de empréstimos bancários para o financiamento da conclusão deles. Foi quando descobriu que não existiam linhas de financiamento, em Belém, para ele. Por um motivo óbvio: jamais alguém havia precisado comprar um apartamento, na verdade, jamais existira algum disponível para venda. Sequer quem tivesse, por profissão, vendê-lo.
Para piorar tudo, os arrendatários de casas e salas se juntaram numa campanha de desqualificação dos prédios de Judah, com medo de perder seus locatários, eventualmente, tentados a ocupá-los. Puseram em circulação intensa um boato sobre suposta temperatura alta, insuportável, existente dentro das edificações. “Imóvel em edifício alto não serve para um clima quente como o de Belém”, era o slogan.
Neste cenário, Judah teve de pôr nos ombros outra pesada responsabilidade: a de vender os espaços que ele mesmo construíra. Isto depois de ter projetado os dois prédios, planejado suas instalações elétricas e hidráulicas, construídos-os e feito seus acabamentos. “Só não fui calculista”, diria ele, décadas depois, numa entrevista.
Agora, me cabe pesquisar a história inteira de Judah Levy para publicá-la em livro, atendendo a um compromisso assumido com a Faculdade de Engenharia da UFPA. Espero poder chegar lá. Bem merece quem que deu início ao processo de crescimento vertical de minha cidade, e, deixou nela marcas de ousadia, talento e generosidade, em outras obras.
(Ilustração: Belém. A visão do bairro Umarizal para quem chega de navio. Foto da Wikipedia)