Mundo das Palavras

A irresistível atração por sexo e violência

Ainda hoje há resquícios do velho Jornalismo Policial sensacionalista nas publicações diárias brasileiras. É para ele que apelam até alguns jornais supostamente sérios, quando forçados a ultrapassar seus concorrentes em vendagem, por conveniências mercadológicas, como a de exibir o título de publicação mais vendida em sua região. Mesmo que isto implique em perda de prestígio diante das agências de publicidade.


 


O Jornalismo Policial sensacionalista se apoia no binômio: violência e sexo. Em fotos de assassinos, assaltantes, espancadores, estupradores. Acompanhadas de relatos nos quais a perversidade humana é intencionalmente destacada. Nestes textos se busca uma espécie metafísica de ultrapassagem dos atos humanos conhecidos, mas reprovados socialmente.


 


Os veteranos do Jornalismo lembram-se do tipo de humor grosseiro decorrente da invencionice de algumas manchetes para as quais apelava o “Notícias Populares”, de São Paulo, quando precisava manter a intensidade dramática do seu noticiário policial, em dias de acontecimentos banais. “Cachorro fez mal à moça”, estampou em sua capa o jornal, usando letras garrafais, aquelas de tamanho exagerado. No entanto, após o anúncio estridente, que parecia se referir a um caso escabroso de zoofilia (sexo com animal), o jornal apresentou o decepcionante relato sobre uma jovem atingida por infecção intestinal, após consumir um sanduíche do tipo “cachorro-quente”, comprado numa praça da cidade. 


 


Junto às demonstrações dos efeitos da destrutividade humana, o Jornalismo Policial sensacionalista oferecia também estímulos à sexualidade: fotos de mulheres seminuas, veiculadas em grandes espaços da capa. Todos os dias as bancas de jornal atraíam os olhares dos leitores pela exibição, nos jornais, de partes íntimas de um corpo bem torneado.


 


Morte e vida. Tanatos e Eros. O Jornalismo Policial sensacionalista alimentava os impulsos básicos, primitivos, dos seres humanos, diziam os teóricos de Comunicação Social. No entanto, há mais de 40 anos, dentro do Jornalismo, é mantido um esforço de superação desta fase da História da Imprensa, no Brasil. Em muitos momentos, este velho Jornalismo cedeu lugar à investigação criteriosa e séria dos repórteres – uma prática que os leva a enxergar, por detrás de um caso de violência, a existência de tramas complexas, nas quais as res-ponsabilidades individuais estão ampliadas ou reduzidas por imposições de diversas origens. 


 


Apesar deste esforço, porém, continua sendo irresistível, para alguns jornais, o apelo ao uso sensacionalista do binômio violência e sexo. Isto fica evidente no tratamento dispensado, nestas publicações, à morte por  atropelamento do jovem Rafael Mascarenhas, ao desaparecimento da ex-amante do goleiro Bruno, Elisa  Samudio, e, ao assassinato da advogada Mércia Nakashima. Misturados ao empenho da apuração meticulosa dos repórteres, são visíveis os ingredientes do velho Jornalismo Policial sensacionalista, usados na procura inescrupulosa de ampliação de tiragem de jornais.


 


 


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP

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