Leonard Cohen, recentemente, revelou que estava preparado para morrer. Sem dar à revelação o tom melancólico de grande parte de suas envolventes composições. Segundo os especialistas, decorrente da perda de seu pai, ainda criança. Pareceu, então, revelar somente uma atitude equilibrada, diante das contingências humanas. E as dele, em particular, nos seus mais de 80 anos de idade. Afinal, além de poeta, compositor e cantor, Cohen era, também, monge budista, o Dharma de Jikan ("Silencioso"). E, num de seus livros, o “Death of a Lady´s Man”, encontrou um modo generoso de homenagear a vida. No texto intitulado “Como falar Poesia”, traduzido por Carlos Bessen, quis socializar sua capacidade de expressá-la com beleza. Escreveu:
“Tome a palavra borboleta. Para usar essa palavra não é necessário fazer a voz pesar menos do que uma onça ou equipá-la com pequenas asas empoeiradas. Não é necessário inventar um dia ensolarado ou um campo de narcisos. Não é necessário estar amando, ou estar apaixonado por borboletas. A palavra borboleta não é uma borboleta real. Há a palavra e a borboleta. Se você confunde esses dois itens as pessoas têm o direito de rir de você. Não faça muito da palavra. Você está tentando sugerir que você ama borboletas mais perfeitamente que qualquer outro, ou realmente entende sua natureza? A palavra borboleta é apenas dado. Não é uma oportunidade pra você pairar, planar, fazer amizade com flores, simbolizar beleza e fragilidade, ou de qualquer forma personificar uma borboleta. Não represente palavras. Nunca represente palavras. Nunca tente sair do solo quando você fala sobre voar. Nunca feche seus olhos e puxe rapidamente sua cabeça para um lado quando você fala de morte. Não fixe seus olhos flamejantes em mim quando você fala de amor. Se você quer me impressionar quando você fala de amor ponha sua mão no bolso ou embaixo de seu vestido e brinque com você mesma. Se a ambição e a fome por aplausos tem te guiado a falar sobre amor você deveria aprender como fazer isso sem desonrar você mesma ou o material. Fale as palavras com a exata precisão com a qual você checaria uma lista da lavanderia. Não se torne emotivo sobre a renda da blusa. Não fique de pau duro quando você diz calcinhas. Não fique cheio de calafrios por causa da toalha. É apenas a tua lavanderia. São apenas suas roupas. Não fique espiando através delas. Apenas as use”.