As coxas, o bumbum, a cinturinha da paraense Mara Rúbia eram comparados com os da carioca Virginia Lane pelos fãs que idolatravam as duas lindas mulheres, quando elas se exibiam seminuas, em grandes espetáculos de Teatro de Revista no Rio de Janeiro, nos anos de 1940 e 1950, lembra o jornalista Artur Xexéo, de O Globo. Aquilo afrontava a moralidade hipócrita e repressiva que vigorava no país. Por isto, era saudado por aquele público como uma demonstração de ousadia feminina, inusitada e deliciosa.
Hoje, a memória da carreira de Mara Rúbia está quase perdida. Mas é defendida também por outro profissional – como Xexéo – igualmente criativo e moderno no atual Jornalismo brasileiro: José Simão, da Folha de São Paulo. E isto não aconteceu por acaso. Mara tinha uma personalidade inquieta e se mostrava com fôlego para sacudir a então pachorrenta atmosfera cultural do Brasil.
Para ela, José Simão reservou um capítulo inteiro do seu livro Folias Brejeiras. Num caso de identificação completa de dois agentes culturais de épocas distintas, pois Simão diariamente produz textos ácidos, escandalosos e engraçados sobre a realidade sócio-política nacional, como se imprimisse o espírito do Teatro de Revista nas páginas de seu jornal. Sua carreira já superou em longevidade as de seus pares famosos, como o Barão de Itararé, Stanislaw Ponte Preta e os humoristas do lendário Pasquim.
Quanto a Xexéo, no prefácio da obra Mara Rúbia, a Loura Infernal, ele sustenta: a paraense ultrapassa Virginia quando as carreiras de ambas são comparadas. Ao contrário de Virgínia, Mara sobreviveu como artista ao fim do Teatro de Revista. Inicialmente, apresentou programas na recém-implantada televisão do Brasil. Mais tarde, atuou em telenovelas. Além disto, Mara fez sucesso no Teatro Municipal do Rio em comédias produzidas pela mitológica atriz Dulcina de Moraes. E, diz Xexéo, foi “sempre lembrada pelos cinemanovistas como Arnaldo Jabor, que a escalou para o elenco de O Casamento, e Ruy Guerra, que lhe deu uma participação especial em Os Deuses e os Mortos”.
“Toda uma geração que não tinha nem nascido quando (o teatro de) revista atraía multidões à Praça Tiradentes – acrescenta ainda o jornalista – a conheceu em telenovelas do fim dos anos 1970, como Feijão Maravilha, Pulo do Gato, e, Sinal Fechado”.
“Por tudo que realizou, Mara não merecia o esquecimento a que foi relegada”, conclui Xexéo.