A nossa Marilyn Monroe aparece hoje, numa das raras imagens dela postadas na internet, em meio a manchas amareladas, típicas de um papel fotográfico desprotegido na passagem do tempo. Publicá-la exige uma limpeza prévia. Como nesta imagem, a lembrança de Mara Rúbia também está se apagando na memória dos brasileiros. Poucos sabem que ela, como a loura norte-americana, enfrentou nos anos de 1940 e 1950, a mentalidade conservadora então vigente que impunha grande repressão sexual, sobretudo às mulheres. Com uma diferença. Mara travou sua luta num país, o Brasil, onde ainda vicejava a religiosidade intolerante herdado de Portugal.
Marilyn e Rúbia tinham ousadia suficiente para exibir em público seus corpos belos e exuberantes. Com isto, contribuíram para a revolução sexual que iria irromper nos anos de 1960, aliviando a pressão social exercida contra o direito ao desfrute livre e natural dos prazeres físicos.
Depois que Marilyn e Mara alcançaram o status de deusas do sexo, as duas primeiras décadas de suas vidas ficaram obscurecidas. Inclusive o primeiro casamento fracassado que tiveram neste período.
Marilyn nasceu em Los Angeles, em 1 de junho de 1926. Morou em Burbank na Califórnia usando seu nome original, Norma Jeane Mortenson. Até ser fisgada pela engrenagem da indústria cinematográfica hollywoodiana e passar a ser identificada, nos Estados Unidos e em muitos países, por seu nome artístico.
Mara nasceu na Ilha do Marajó, no Pará, no dia 3 de fevereiro de 1918. Viveu em Belém, com seu nome de batismo, Osmarina Lameira Cintra, antes de ser descoberta por Walter Pinto, o maior empresário de Teatro de Revista, no Brasil. O gênero artístico era muito popular na época, e, dentro dele, Mara brilhou como grande vedete.
Tem ainda uma última coincidência o paralelo que os itinerários existenciais destas duas mulheres iriam estabelecer. Ambas, após muitos anos de sucesso, se cansaram do papel de símbolo sexual.
Marylin se aperfeiçoou como atriz, obtendo prêmios como o Globo de Ouro, oferecidos pelos críticos de cinema norte-americanos.
Mara foi levada para o teatro clássico pela maior celebridade deste gênero, a atriz-diretora Dulcina de Moraes. A paraense chegou a estrelar uma peça Escândalo, ao lado de Bibi Ferreira. E ainda, participou do superintelectualizado Movimento do Cinema Novo, quando foi dirigida por Arnaldo Jabor e Ruy Guerra.
A lembrança de Marilyn se torna cada vez mais viva, hoje. Já a de Mara, desaparece.