Mundo das Palavras

A musa de Ne me quitte pas

Ela tinha tudo para ser uma das personalidades mais conhecidas da História da Cultura. Pois, é origem e destino de uma obra poética conhecida em todo o planeta, há 60 anos. Inclusive em comunidades de línguas pouco conhecidas como servo-croata, africâner, romeno, estônico, azeri, neerlandês, pomerano, galego, ídiche, provençal, corso, vietnamita, catalão, alsaciano, malgaxe, crioulo, hebraico, bávaro, genovês e limburgês. São mais de 1.400 versões, todas identificadas pelo site especializado brelitude.net. No entanto, até no país da musa, a França, ela é pouco conhecida. 
“Ne ME quitte pas” foi criada para a Suzanne Yvonne Henriette Marie Galopet pelo poeta e compositor belga Jacques Brel, quando ela tinha apenas 23 anos de idade. 
Suzanne nascera num ambiente de celebridades. Seu pai, o ator de Cinema Adrien André Marie Galopet, viveu cercado pelos elencos dos 80 filmes em que atuou.  
A própria Suzanne se tornou estrela, ainda muito jovem. Atriz e cantora, ela comandava  espetáculos no Teatro Olympia, tradicional endereço dos artistas parisienses. 
Quando cruzou com Suzanne, Brel era um rapaz de 26 anos. Tinha deixado Bruxelas dois anos antes. Estava em Paris, em busca de uma carreira artística. Mas contava com magro currículo: duas das suas músicas apenas ele conseguira gravar. Na França, Brel queria também escapar: a) das peias impostas pela formação religiosa que recebera num colégio católico; b) do pai que o pressionava para se integrar no comando de sua indústria de cartonagem, e, c) do sufocamento do casamento prematuro, aos 21 anos, com uma ex-colega, Thérèse Michielsen. 
Num assento de vagão de 3ª classe, no trem que o transportou por 320 quilômetros até Paris, sem dinheiro, ele só pôde se alimentar com  um sanduíche. Mas o alimento – Brel escreveria mais tarde – “estava perfumada pela aventura, pela esperança e pela felicidade”. 
Em Paris, ele se hospedou num quarto de hotel pequeno, que conseguia pagar cantando em  bares noturnos. Num destes locais, contudo, foi notado por Jacque Canetti, um descobridor de talentos. Através de Canetti, ele conseguiu lançar o álbum "Jacques Brel et ses chansons". Para sorte dele, uma de faixas do álbum, com a sua música “Le Diable”, agradou Juliette Gréco, diva dos existencialistas. Que passou a cantá-la e a gravou também.  
Foi, neste momento, que se deu a aproximação com Suzanne. Por quem ficou apaixonado. Os dois, durante cinco anos, fogosos e ardentes, alimentaram aquele relacionamento adúltero. Até que Suzanne engravidou. Brel seria obrigado a romper definitivamente o antigo casamento com Thérèse. Mas, ainda sentindo ligado à sua comunidade original, ele não teve forças. Suzanne fez um aborto. E, entrou em depressão.  Neste período, de desespero, Brel criou “Ne me quitte pas”. 
 
 
 

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