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A NOVELA, O PROTESTO E A SOGRA

Crônica do jornalista Valdir Sanches

    Aqui em casa não gostamos do final da novela e resolvemos ir à avenida queimar um ônibus. Depois, achamos mais prático jogar o lixo na rua e pôr fogo. Convoquei primeiro o Jorge, meu vizinho à direita. Foi muito malcriado, escreveu que já estava de pijama e pronto para a cama, e não tinha nenhuma bossa para vândalo, o bundão.

   Caprichei na mensagem para o Olegário, que mora à esquerda. Pior ainda. Respondeu que àquela hora, eram onze da noite, não saía de casa nem amarrado. “Convida algum assaltante aí da rua para ir com você”, postou o cínico.

   Fui para o vizinho da frente, seu Augusto. Olha a resposta: “O que, com a gasolina nesse preço você quer por fogo?”. “A gente pode usar álcool”, tentei. Não respondeu.

   Nisso toca o telefone fixo, que foi difícil de achar, porque ninguém lembrava onde estava. Pensei: “É ela”. “Gostaram da novela?”, perguntou minha sogra.  E, antes da resposta: “Pois eu não gostei. Ela tinha que tomar um choque que torrasse um braço, depois outro  para ficar sem uma perna, ia levando os choques e morrendo aos poucos…”.

   Bem, pensei, está aí uma adesão para nosso protesto na avenida. Mas resolvi não arriscar. 

Valdir Sanches é jornalista 

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