Florence Foster nasceu em 1851 na cidade de Wilkes-Barre, na Pensilvânia. Ainda na infância, esboçou uma carreira como pianista, chegando a realizar pequenas turnês e a tocar na Casa Branca. Quando se formou na escola, quis viajar para a Europa para estudar música, mas seu pai a impediu. A importância da arte era tamanha na sua vida que ela rompeu com a família. Casou-se, separou-se. Herdou, eventualmente, a fortuna da família. Foi importante patrona das artes, criou o Clube Verdi. E cantou, de tudo. Sempre muito mal. Contou, no entanto, com a ajuda do segundo marido, que fez tudo para evitar que a mulher descobrisse o quão ruim ela era – no que, até onde se sabe, teve sucesso.
Essa é, em linhas gerais, a história narrada no filme de Stephen Frears, a mais recente recriação da trajetória de Florence. Há, por exemplo, o filme Marguerite, de Xavier Giannoli, também em cartaz. E uma infinidade de peças baseadas em sua vida, em especial Glorious!, de Peter Quilter. É um paradoxo interessante. O problema de Florence não era apenas a voz, terrível, mas também a afinação, sempre imprecisa, ou a completa falta de musicalidade. Ainda assim, ela é uma das figuras mais queridas dos amantes da ópera de todo o mundo.
Talvez essa atração se deva ao fato de que, no fundo, ela realizou o desejo recôndito de todo amante da ópera. Seu biógrafo, Daryll Bullock, vai em outra direção. Para ele, a paixão e entrega de suas apresentações fazem dela o exemplo mais bem acabado, no limite, do amor pela arte. Será que ela teria parado se soubesse quanto era ruim? Será mesmo que ela não sabia? Seja como for, ela continuou sobre o palco. E, em um mundo como o da ópera, que vive à custa da expectativa de perfeição, seu canto terrível não deixa de ser uma quebra de paradigmas. Um legado, no final das contas, interessante.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.