Mundo das Palavras

A pior (e melhor) profissão

O calvário do Jornalismo Impresso parece infindável. Há quase quarenta anos, ele se encontra no papel de vítima das inovações incessante e crescentemente introduzidas nas engrenagens da indústria de produção de notícias.

Na década de 1970, quem se encontrava no mercado de trabalho jornalístico de São Paulo pôde acompanhar o trauma de mais de cem revisores demitidos pela Folha de São Paulo quando o ofício deles foi extinto na empresa que publicava aquele jornal, com a introdução nela do uso de computadores.


Aqueles revisores tinham tido a grandeza de, por décadas, sustentar, anonimamente, as carreiras de colegas famosos da Redação, extirpando as asneiras introduzidas por eles em seus textos. O drama, então, vivido por eles foi apenas o prenúncio da longa crise que se prolonga até hoje pelo surgimento de mídias mais modernas – internet, celular, tablet, iPad.


Há poucos dias, foram divulgados os resultados de um estudo do Centro de Estatística do Trabalho dos Estados Unidos, através da qual o órgão pesquisou aquelas que são consideradas pelos norte-americanos como as piores 200 profissões. O estudo levou em conta os seguintes itens: esforço, físico, ambiente de trabalho, renda, estresse e perspectivas de estabilização no emprego por meio de contratação. No topo da lista, como pior que as profissões de lenhador, soldado, leiteiro, carteiro, comissário de bordo e todas as outras pesquisadas, apareceu a de repórter da mídia impressa.


Um sentimento de dor ligado ao destino recente deste profissional é inevitável. Afinal, há poucas décadas, o trabalho dele chegou a ser classificada como o melhor do mundo, pelo escritor Gabriel Garcia Marquês. Pois, lembrava o colombiano, foi aquele trabalho que lhe deu oportunidades para, ainda jovem, viajar e ganhar dinheiro com seus textos.


No entanto, ninguém pode se esquecer da descoberta feita pelo pensador Walter Benjamin. A de que, desde os tempos mais longínquos, os seres humanos sempre necessitaram ouvir os relatos orais das pessoas mais velhas e dos viajantes. Porque eles conheciam fatos ignorados pelo grupo social a que pertenciam.


Esta necessidade de ampliar o âmbito de nossas experiências com a absorção de relatos de experiências vividas por outras pessoas nunca desaparecerá. Ela, ninguém duvide, vai garantir sempre a sobrevivência dos repórteres que criam somente narrativas verbais.

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