Quem chega a uma cidade que se visita pela primeira vez, impacta-se com aquilo que lhe desperta a atenção. Lembro-me da sensação ao ver o Pão de Açúcar, o Corcovado, Copacabana e Ipanema na Cidade Maravilhosa, quando a conheci na década de sessenta do século passado. Ou do encanto vivenciado em Paris, quase vinte anos depois. Ou a Terra Santa, Jordânia, Turquia, Egito e outros países que me pareceram exóticos. Voltei muitas vezes a algumas urbes e pude avaliar o tratamento carinhoso das administrações e, mais do que o Poder Público, o respeito que os moradores devotam ao lugar em que vivem.
A Escandinávia é uma terra civilizada. Limpeza, eficiência, polidez e logística reversa em funcionamento pleno. Algo até estranho para nós brasileiros.
Imagino o que deve pensar um estrangeiro ao percorrer o centro de São Paulo. É chocante verificar a pichação de todos os edifícios, inclusive os tombados, como a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Seres humanos ocupando espaços públicos e privados, a dormir, a consumir drogas, a praticar outras atividades nem sempre suscetíveis de serem assistidos por criança.
A impressão é de total abandono. O centro é o cartão de visitas da capital. Verdade que uma concentração de vinte milhões de pessoas em conturbação insensata dificulta uma gestão racional. Todavia, se a população amasse esta megalópole, ajudaria a dela cuidar. Pichá-la, sujá-la, perder a capacidade de indignação diante das atrocidades cometidas contra o ambiente urbano, cultural, histórico, arquitetônico, é a causa primeira do agravamento da deterioração.
Quem poderá calcular o que São Paulo perde a cada dia, por oferecer um espetáculo miserável de insegurança, de sujeira, de lamentável conjugação de fatores que exprimem o desamor e em relação ao qual não se vislumbra mudança no ritmo desejável.
Vamos recuperar o amor por nossa maior concentração populacional da América Latina?
José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo