O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros é um crítico duro do catastrofismo que contagia boa parte de seus pares no País. Às vésperas de completar 80 anos, em novembro, ele dedica hoje boa parte de seu tempo à leitura e à realização de postagens no Twitter, nas quais contesta, com base nos principais indicadores econômicos, as previsões que permeiam a narrativa dominante no mercado. Nesta entrevista ao <b>Estadão</b>, ele diz que a "raiva" contra o presidente Jair Bolsonaro contaminou as projeções apocalípticas de muitos economistas, desmentidas, uma a uma, pela realidade.
<b>Como o sr. analisa a reação dos investidores ao resultado do 1.º turno das eleições, com a queda do dólar e a alta da Bolsa? </b>
Quando você tem um evento que é "bola ou búlica", se o Lula vai ganhar ou não no 1.º turno, sempre acontece uma esticada grande depois, porque tem gente que apostou num lado e gente que apostou no outro. Há um ajuste de contas entre "comprados" e "vendidos". Quem apostou no lado errado, de que o Lula levaria no 1.º turno, tem de sair comprando. Só agora, quando a poeira baixar, é que nós vamos ver o que vai acontecer de fato.
<b>Qual era o receio do mercado com uma eventual vitória do Lula no 1.º turno?</b>
Na visão do mercado e na minha, também, havia o risco de que uma vitória do Lula no 1.º turno representasse uma espécie de salvo-conduto para ele gastar, estourar o Orçamento. Agora, se o Lula ganhar, ele não poderá fazer o que quiser, porque não terá maioria no Congresso. A esquerda vai ter 150 deputados, e a direita, troglodita ou não, quase 300. No Senado, o quadro será semelhante. Mas, para ganhar, ele vai ter de nomear um ministro da Fazenda muito bom e não essas porcariadas de que estão falando por aí. Acredito que o Lula vai fazer isso, embora na campanha haja uma ala da ultraesquerda que fica enchendo o saco dele.
<b>Em sua avaliação, se isso se confirmar, como o mercado deverá reagir em caso de vitória do Lula no 2.º turno?</b>
O mercado vai se fortalecer e começar a subir devagar. Se o Lula colocar um cara mais conservador na economia e ganhar a eleição, acho que o País vai continuar crescendo. A inflação está caindo, e daqui a pouco o pessoal do mercado vai rever a estimativa de crescimento de 2023. Hoje, estão projetando 0,5%, mas, nesse cenário, o Brasil deverá ter resultado semelhante ao deste ano e crescer de 2,5% a 3%.
<b>Não houve também uma percepção de que, com uma eventual vitória de Bolsonaro no 2.º turno e a permanência do ministro Paulo Guedes, o risco de um "cavalo de pau" na economia é menor?</b>
Não tem dúvida. Com o Bolsonaro, o risco fiscal fica menor. Embora ele não seja nenhum santo em termos de política fiscal, o Paulo Guedes tem credibilidade. Então, se o Bolsonaro ganhar, você vai ter uma especulação de que o crescimento vai ser muito maior. Não sei se isso vai acontecer, porque ainda temos restrições pela frente. De qualquer forma, o crescimento normal do Brasil, sem inventar muito, deverá ficar de 2,5% a 3% ao ano, nos próximos dois ou três anos.
<B>Nos últimos meses, o sr. tem apontado os erros dos economistas nas previsões para os principais indicadores: crescimento, inflação, contas públicas. Por que os economistas erraram tanto?</b>
Toda a revolta pelo jeito de ser do Bolsonaro acabou permeando esse quadro. Quando você é analista de economia, não pode agir com o fígado e não olhar o que está acontecendo. A política tem de ser neutra. Na minha família, sou considerado bolsonarista, porque digo que a economia está crescendo e a inflação, caindo.
<b>Em suas postagens no Twitter, o sr. diz que houve "vexame" dos economistas… </b>
Foi um vexame mesmo. Eles erraram demais. Estavam esperando o fim do mundo. Como existe esse mal-estar com o Bolsonaro, pelo jeito dele, pelo que ele representa, era mais ou menos regra geral que as coisas não poderiam dar certo. Mas, apesar dos problemas, do orçamento secreto, que é "dinheiro de pinga" perto do PIB, o Brasil está indo em frente.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>