A região de Belgorod, na Rússia, tem sido alvo de ataques ucranianos cada vez mais intensos este mês, enquanto a invasão russa entra no seu terceiro ano.
Uma análise sobre a região e seu papel na guerra:
<b>O que é a região de Belgorod?</b>
A região de florestas, terras agrícolas e colinas tem uma fronteira de 540 quilômetros ao longo do limite nordeste da Ucrânia. Trata-se de uma área de mais de 27 mil km², com uma população de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas,
que detém cerca de 50% do minério de ferro da Rússia, além de outros minerais, e abriga várias grandes indústrias e propriedades rurais.
A cidade de Belgorod, capital da província, com uma população de aproximadamente 340 mil pessoas, fica apenas 40 quilômetros a leste da fronteira, o que a torna um alvo fácil para a artilharia ucraniana.
<b>O que a região já enfrentou?</b>
A região foi um ponto de partida para a invasão russa em fevereiro de 2022. Ela vem sofrendo ataques ucranianos regularmente desde que as forças russas recuaram do nordeste da Ucrânia para lá, no começo da guerra, sob o peso de uma contraofensiva de Kiev.
Um ataque à cidade de Belgorod em 30 de dezembro marcou uma escalada sangrenta. Enquanto os moradores da região comemoravam o Ano Novo em um fim de semana de feriado, foram atingidos por uma onda de foguetes. As autoridades dizem que 25 pessoas foram mortas, incluindo cinco crianças, e mais de 100 foram feridas.
O derramamento de sangue também obrigou as autoridades a cancelarem as comemorações da festa ortodoxa da Epifania, em 19 de janeiro.
Os ataques regulares com foguetes e drones continuaram desde então. A área pode ser atingida por armas relativamente simples e de grande mobilidade, como lançadores múltiplos de foguetes, a partir das florestas do lado ucraniano.
Os vilarejos de fronteira têm enfrentado repetidas incursões apoiadas por tanques, veículos blindados de infantaria e outras armas pesadas. A Rússia alega ter repelido os ataques e causado extensas perdas.
Os reiterados ataques ucranianos desferiram um golpe duro contra as tentativas do presidente Vladimir Putin de tranquilizar os russos de que suas vidas cotidianas estão, em grande parte, intocadas pela guerra.
Os vilarejos de fronteira russos na região foram alvo de ataques esporádicos durante a guerra, por fogo de artilharia, foguetes, morteiros e drones ucranianos, lançados de florestas densas, onde são difíceis de detectar.
<b>Qual foi a reação de Putin?</b>
O bombardeio através da fronteira e as incursões aconteceram ao mesmo tempo em que Putin consolidava seu poder por mais seis anos em uma eleição altamente orquestrada que aconteceu este mês após uma forte repressão às vozes dissidentes.
Putin diz que os ataques são uma tentativa de assustar os moradores. "Tenho certeza de que nosso povo, o povo da Rússia, responderá a isso com uma coesão ainda maior", afirmou na semana passada.
Ele jurou que os ataques ucranianos através da fronteira "não ficarão impunes", e manifestou especial ira contra os russos pró-Kiev que se uniram às tropas ucranianas nas incursões, descrevendo-os como traidores que enfrentarão morte iminente.
<b>Como as autoridades de Belgorod responderam?</b>
Após o ataque do fim de semana do Ano Novo, as autoridades ampliaram uma rede de abrigos em Belgorod e reforçaram os pontos de ônibus com blocos de concreto e sacos de areia. O governo regional também ofereceu assistência às pessoas que quisessem deixar temporariamente a cidade e outras regiões fronteiriças.
O governador de Belgorod, Vyacheslav Gladkov, ordenou esta semana a retirada de 9 mil crianças da região, e determinou que as escolas ficassem fechadas até sexta-feira em Belgorod e outras áreas próximas à fronteira. As universidades da região vão aderir ao ensino à distância, e clubes e instituições culturais e desportivas ficarão fechados.
Foram criados postos de controle militares para restringir a entrada nos seis vilarejos de fronteira.
<b>O que dizem as autoridades ucranianas?</b>
As autoridades ucranianas raramente comentam sobre ataques dentro da Rússia, mas enfatizam o direito de Kiev de usar todos os meios para combater a agressão de Moscou.
Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, disse na terça-feira que qualquer ação militar no local seria "consequência direta da agressão ilegal e não provocada da Rússia contra a Ucrânia".