Mundo das Palavras

A repulsa ao horário político

Enjoo, repulsa, incômodo. Esta, certamente, é apenas parte da lista dos sentimentos negativos que acomete a maioria dos brasileiros no período pré-eleitoral. Não poderia ser diferente. Afinal, o que deveríamos experimentar se não estes sentimentos ao recebermos a imensa carga de empulhação despejada sobre nós através de rádios e televisões, em horários políticos perversamente chamados de gratuitos?  
 
Não se trata, é claro, de abrir mão do princípio que deveria orientar a ocupação destes horários: o de impedir que o acesso aos meios de comunicação se constitua num privilégio apenas de candidatos endinheirados com condições de comprar espaços nas programações das emissoras. Mas se trata sim da falta de mecanismo que garanta o uso socialmente útil deste horário político. Um uso capaz de justificar a perda de recursos públicos que eles trazem. E de que o país tanto necessita para enfrentar os seus terríveis problemas nas áreas de Segurança, Saúde, Moradia, Saneamento e Educação. 
 
Porque, embora pouca gente saiba disto, longe de ceder gratuitamente estes horários em suas programações, as rádios e televisões são premiadas por mantê-los. Ficando dispensadas de pagar seus impostos de renda num valor correspondente a 80 por cento do valor comercial dos horários políticos.
 
É como se elas vendessem para a população brasileira – sacrificando-a com a perda de recursos públicos -, os, em geral, caríssimos minutos de seus espaços publicitários, oferecendo, como suposta vantagem, um abatimento de vinte por cento. Para que? Desgraçadamente para veiculação de conversa mole, de falsas promessas, quando não de mentiras deslavadas de tanta gente ansiosa por se apropriar dos ganhos lícitos e ilícitos  associados no Brasil ao exercício de cargos eletivos. 
 
Com tristeza, somos forçados a nos confrontar nos horários políticos com muita gente à procura de ascender a um cargo eletivo sem as qualidades que deveriam justificar esta pretensão: altruísmo, idealismo, generoso espírito de doação ao próximo. O que fez esta gente tão cínica, moralmente tão materialista ao se deixar mover unicamente pelo desejo de obter vantagens e ganhos materiais? Parece que entre nós grassa algum tipo de doença social, revelada na tipologia nestes candidatos que surgem, hoje, nas mais diversas regiões do Brasil.
 
Portanto, quem não quiser se sujeitar ao humilhante papel de vítima de conto de vigário precisa analisar com muito cuidado o candidato a quem vai confiar seu voto. Como se executasse uma metida necessária à manutenção de seu respeito próprio. Como se cumprisse um compromisso com a comunidade do seu país.  
 

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