Mundo das Palavras

A sofrência de Chico

Chico Buarque com sofrência. Aquele estado de espírito – dizem os dicionários - de quem, desiludido, não tem reciprocidade no amor que sente por alguém.

Logo Chico, que encanta as mulheres, há meio século. E, na sua juventude, as enlouquecia. Como aconteceu com cerca de 10 mil garotas, quando, ele, com 22 anos de idade, foi a Curitiba. As jovens, para vê-los, acotoveladas, pararam o trânsito da cidade. E, não satisfeitas, romperam o cordão policial que o protegia para “arrancar” beijos e camisa dele, além de chumaço de cabelos, escreveu o repórter Elmir Leite, na revista Manchete, em novembro de 1966.

No mês seguinte, na reportagem “Chico dá samba”, da revista Realidade, o jornalista e psicanalista Roberto Freire escreveu que Chico já havia descoberto o sucesso que fazia com garotas”. Diante de Freire, os cantores do MPB-4, que o acompanhavam nos shows, fingiram indignação: “Também somos lindos, altos, simpáticos, cantamos o fino. E, no palco, mesmo quando a luz do refletor está focada só na gente, elas ficam adivinhando onde o Chico está. Ou ficam esperando-o voltar. São fogo estes olhos verdes! O jeito é a gente usar lentes de contato colorida”.

Pois bem, exatamente naquela época da total exuberância física de Chico – quem diria? – ele foi vítima da sofrência.

A revelação deste único caso conhecido de amor não correspondido, na história de Chico, foi feita pela cantora Cynara. Ela e sua irmã Cybele enfrentaram, em 1968, a maciça vaia no FIC-Festival Internacional da Canção, ao cantarem “Sábia”, de Chico e Tom Jobim, diante do público que preferia “Caminhando”, de Geraldo Vandré.

Em abril de 2018, Cybele já havia falecido, quando Cynara contou para a revista Época: “Conhecemos o Chico, em 1964, em São Paulo, apresentadas pelo dramaturgo Chico de Assis. Ela prosseguiu: “O Chico Buarque era apaixonado pela Cybele. Mas ela não queria nada com ele porque era apaixonada por um baiano, o Marcílio, com quem acabou se casando e tendo filho”.

Dois episódios da sofrência de Chico foram, então, lembrados por ela. O primeiro, doméstico: “A gente morava em Copacabana, com nossa mãe. O Chico aparecia por lá, do nada. Nossa mãe olhava pelo olho mágico e dizia: ‘É aquele moço …’.

O segundo, engraçado, envolveu o empresário gay de Caetano, Guilherme Araújo: “Naquela época, a gente costumava sair de nosso show no Zum Zum, e, ir para as boates, com amigos, como o violonista Oscar Castro-Neves, Toquinho e Chico. Aí teve o lance do Guilherme Araújo. A gente foi para a boate Mau Cheiro. O Chico ficou achando que era a Cybele quem estava roçando com o pé na perna dele. Pediu para o Toquinho olhar (debaixo da mesa) … Era o Guilherme!”

(Ilustração, Chico, calado na sofrência por Cybele, atrás dela, durante o Festival Internacional de Canção)

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