Cidades

A volta do CPMF e a família gastadeira

Imagina uma família que não se importa com o orçamento mensal. É a mulher que adora fazer compras, mesmo de coisas desnecessárias, filhos que exigem do bom e do melhor, e um pai – o único assalariado – que faz questão de aparecer de carro novo todo ano, de sair para beber com os amigos, de ir aos melhores restaurantes com frequência, sem se atentar que os valores gastos são maiores que aqueles que recebidos. Para fechar as contas, dá-lhe cartão de crédito, cheque especial e pagamento de juros abusivos. 
 
Agora imagine outra família que procura gastar somente aquilo que o salário dá conta, que os demais integrantes, fora o pai, tentam de alguma forma ajudar no orçamento. Mas que, de forma repentina, algo inesperado ocorre, como o desemprego ou uma doença que exige gastos não previstos no orçamento. 
 
Nos dois casos, as famílias tendem a quebrar. Precisarão encontrar alguma solução rápida para resolver os problemas financeiros. Porém, a segunda – que sempre foi mais prudente com os gastos – deverá buscar saídas que exigirão sacrifícios, como a venda de algum bem como o automóvel, mudar hábitos, incluir os filhos no mercado de trabalho, entre outras saídas. Já a primeira, pelo padrão de vida e costumes, encontrará obstáculos maiores para se manter viva, porque cortar da própria carne não é fácil. É gente que não está acostumada a sacrifícios. Talvez sugira ao vizinho vender seu imóvel para lhe emprestar o dinheiro que falta.  
 
Estes dois casos servem para a gente pensar um pouco sobre como o governo federal anda fazendo ao tentar enfiar goela abaixo da população a volta da CPMF. É evidente que ele está aqui representado pela primeira família, formada por pessoas que não tiveram a responsabilidade necessária para prever que uma crise poderia vir, que gastava muito mais do que recebia, que se afundou no cheque especial, sem se preocupar com o dia de amanhã. 
 
Ao exigir um sacrifício ainda maior da população, sem cortar na carne, o governo federal age como um pai de família irresponsável, que não assume os próprios erros, que não faz nada de concreto para virar a mesa. Cadê o corte nos Ministérios? Cadê a sensível diminuição no número de comissionados, que servem para agradar os partidos aliados? Nada. Nem mesmo os gastos exagerados são cortados. 
 
Os donos do poder seguem cercados de comitivas enormes em qualquer viagem, usando e abusando de gastos desnecessários. O Senado, por exemplo, acaba de trocar toda a frota de carros para que os nobres parlamentares tenham mais conforto em suas andanças por Brasília. Ou seja, o governo – mesmo diante da crise – age como a família irresponsável, que prefere pagar muito mais caro numa boutique do que ir comprar o mesmo produto em um atacadista que pratica um preço muito menor. 
 
E isso se espalha pelos governos estadual e municipal. Vira e mexe vemos notícias de dinheiro mal gasto por nossa Prefeitura, que parece ter se esquecido de cuidar da cidade, uma Guarulhos que está numa situação deplorável, com ruas esburacadas, hospitais e unidades de saúde sem médicos, obras paradas, entre outros. Mesmo assim, toda hora somos obrigados a atender ligações em nossos telefones dando conta de que Guarulhos é linda e maravilhosa e que o governo municipal está trabalhando para nosso bem estar. Faça-me o favor! 
 
Ou passamos por uma faxina completa de forma rápida e eficiente ou vamos naufragar de vez. Passou da hora de nossos governantes agirem como uma família prudente e organizada, pronta para enfrentar qualquer percalço. 
 

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