Mundo das Palavras

A voz de Jessé

O compositor Edu Lopo deu resposta dura mas sincera e concisa a um repórter que, há alguns anos, indagou a ele o que achava da música popular francesa. Naquele momento, o compositor estava chegando de uma viagem à Europa.


“É uma merda”, respondeu Edu, sem se importar sequer com o cacófato.


Um artista culto e talentoso como Edu pode se manifestar assim em relação a um aspecto da cultura da França, embora daquele país muitas gerações de brasileiros tenham extraído o que de melhor assimilaram nos campos de Literatura, Filosofia e Pintura. Afinal, o Brasil é colocado junto com Cuba e os Estados Unidos entre as nações nas quais a música popular atinge, no mundo, seu mais alto nível de inventividade. Um status justo conquistado por uma nação com tão vasta variedade de gêneros de música popular espalhadas por todas as suas regiões que distingui-las, muitas vezes, se torna difícil até para os próprios brasileiros. Dois exemplos disto: quem, fora do Nordeste, consegue identificar a diferença entre o xote, o baião e o xaxado? Ou, fora do Norte, a diferença entre o carimbó e o retumbão?


A nossa música popular é rica porque sempre foi criada dentro de um amplo painel de influências nas quais se incluem desde o samba de cacete africano até o jazz norte-americano, desde o canto gregoriano ao merengue cubano. Sua evolução pode ser acompanhada através das mudanças no chamado gosto médio da nossa população. E tem suas peculiaridades. Uma delas: há meio século gostávamos de ouvir nossas músicas através de intérpretes com grande volume de voz, como Vicente Celestino e Nelson Gonçalves, cantores ainda ligados ao belo canto operístico.  Depois, passamos a apreciar cantores de voz pequena, mas afinada como Nara Leão e Roberto Carlos. Já ultimamente gostamos também de timbres rascantes quase roucos como o de Lobão. Nesta variedade de gostos, uma voz se destacou, nas últimas décads, por sua beleza, a de Jessé, atualmente quase esquecido. O curioso é que as mais belas canções cantadas por ele, depois de gravadas, não despertaram muita atenção do público que o admira.


Oswaldo Coimbra


 

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