Embora a Academia de Hollywood possa indicar até dez filmes na disputa pelo prêmio principal, os indicados têm ficado em nove. A Academia este ano diminuiu o número e indicou na quinta, 14, oito títulos para o Oscar de melhor filme. O campeão de indicações é O Regresso, de Alejandro González Iñárritu. O mexicano já venceu no ano passado com Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). O Regresso é melhor e ainda tem Leonardo DiCaprio, eterno perdedor pelos filmes de Martin Scorsese, numa interpretação poderosa como o homem que é deixado para morrer por quem já matou seu filho na inóspita paisagem da América pré-independência no século 18.
Como história de vingança, como relato de cinema, O Regresso mostra Iñárritu em plena posse de seus meios. É a obra-prima do diretor, melhor também que Amores Perros, que marcou sua explosão. Mas a história é clássica. Passa-se há 200 anos, não tem a urgência das denúncias de outros indicados – Spotlight – Segredos Revelados, de Tom McCarthy, que tem seis indicações e aborda o abuso de crianças por padres católicos, e A Grande Aposta, de Adam McKay, cinco indicações, que investe contra o sistema financeiro. E Iñárritu venceu no ano passado. Bisar os prêmios de filme e direção em anos seguidos é coisa que não acontece desde os tempos dos lendários Frank Capra e John Ford.
É um pouco o problema de toda essa disputa – mesmo sob o risco de parecer querer causar, o melhor filme da 88.ª edição do Oscar é Mad Max – Estrada da Fúria, mas o diretor George Miller pode se considerar feliz por haver obtido dez indicações, inclusive nas categorias principais de filme e direção. Star Wars – O Despertar da Força, de J.J. Abrams, que se encaminha para ser a maior bilheteria da história, teve de se contentar com indicações técnicas. E Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros, de Colin Trevorrow, segundo estouro do ano, nem isso – e olhem que se trata de uma aventura eletrizante.
O Oscar tem dessas coisas. Filmes de ação tendem a ser desqualificados como se fossem meros divertimentos. É preciso que um filme do gênero, como o de Iñárritu, sacuda o público com a brutalidade de cenas como a do ataque do urso – prepare-se! -, para que até o intelectual desarme suas defesas e seja arrastado no ímpeto da narrativa e perceba que, afinal, tudo aquilo tem a ver com um certo estado do homem no mundo. O choque cultural, a violência, os interesses mercantilistas naquela América têm a ver, sim, com o mundo atual. No limite, estamos assistindo a algo muito interessante, mesmo nesse reconhecimento (parcial ou total? Aguardemos) da ação e da aventura. Quentin Tarantino, o poeta (ou açougueiro?) pop da violência, dessa vez não seduziu os críticos nem o público e Os Oito Odiados pode até levar o prêmio de trilha que já ganhou no Globo de Ouro, mas será um reconhecimento ao compositor de Sergio Leone.
É um momento crucial. Iñárritu e Miller são homens do cinemão, por mais ambição intelectual que tenha o primeiro. Adam McKay veio do humor à Will Ferrell e agora assina uma comédia séria (A Grande Aposta). Quanto aos independentes… Tod Haynes confessou ao repórter que buscava um retorno a Longe do Paraíso, também melhor. Carol cravou cinco indicações, mas não está na lista do Producers Guild Award, portanto, está fora. Sempre sobra um prêmio de atriz – para Rooney Mara? Kate Winslet (Steve Jobs) é melhor. Não faltam bons – ótimos – filmes na 88.ª edição, mas o Oscar parece estar na encruzilhada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.