“Aceito ser candidato à presidência da Câmara se for o nome de consenso da maioria. Mas não gostaria de ser o nome de consenso.” O “quero mas não quero”, dito nessa ordem é do deputado federal Rogério Schumann Rosso, de 47 anos, primeiro mandato. “De centro, pro lado direito”, como se define o brasiliense nascido no Rio de Janeiro e líder do PSD – a sexta maior bancada, com 37 deputados -, ex-presidente da Comissão Especial do impeachment, e um dos nomes com boa cotação para assumir o lugar do “quase já vai tarde” Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Rosso recebeu o Estado na manhã da quarta-feira passada, 6, em sua bela casa de 400 metros quadrados no Lago Sul, em Brasília. Defendeu a renúncia de Cunha – anunciada na quinta-feira seguinte, 7, -, afirmou que nunca pertenceu a seu grupo político (“A relação foi apenas institucional, de líder para presidente”), e disse não acreditar que Cunha possa ter qualquer influência efetiva na escolha do novo presidente.
Nas contas do deputado – “julho é recesso, agosto é Olimpíada, setembro e outubro têm eleição” -, o próximo presidente terá apenas três meses de pleno exercício (o mandato acaba em fevereiro do ano que vem). “Uma disputa combativa por tão pouco tempo não me parece salutar para o País”, disse. “Num momento em que está em jogo a garantia da governabilidade, mais do que o poder de comando da Casa, a disputa pode fragilizar ainda mais a base do governo.” Sua primeira tarefa, com o cargo na mão, seria “fazer com que a Casa volte à normalidade, prestigiando os partidos, o colégio de lideres, e formatando uma agenda previsível para os próximos cinco meses, que ajude o País a sair da crise”.
O País, no caso, é o governo interino de Michel Temer, onde seu partido tem um ministro, Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), e outros postos de relevo na administração federal. “O presidente está indo bem nos dois pilares em que a presidente Dilma foi mal: política econômica e relacionamento com o Congresso”, disse. “Com a vantagem de já ter sinalizado que não é candidato à reeleição”, acrescentou.
Militante
Os dois se conhecem desde que Rosso era um entusiasmado militante do PMDB de Brasília. Temer perguntou, pouco antes de assumir, se o deputado desejava alguma posição no governo interino. Ele se disse honrado com a sondagem, mas declinou. Explicou ao presidente, para não parecer desdém, que tem um projeto de lei defendendo quarentena para quem tenha sido presidente ou relator de comissão do impeachment.
Favorável ao afastamento definitivo da presidente Dilma, “por crime de responsabilidade”, acha, em tese, que ela ainda possa voltar. Mas sua percepção é a de que o jogo acabou. Lembrou que a presidente o recebeu sete vezes, como líder da bancada pedessista e amigo e braço direito do ministro Gilberto Kassab, na época, comandando a pasta de Cidades na gestão petista. Nunca o convidou para uma conversa a dois, ou a três. Com Temer, em dois meses, Kassab novamente ministro, Rosso já contabilizou 15 reuniões. O hoje presidente já esteve na casa do Lago algumas poucas vezes, como convidado para eventos sociais.
Roqueiro
Rosso é músico autodidata. Toca piano, baixo e guitarra com destreza e desenvoltura, compõe, e é roqueiro aficionado que pode ficar horas e horas conversando sobre bandas e artistas contemporâneos, especialmente os do gênero heavy metal, seu preferido. Seu aplicativo para ouvir música tem duas mil pedradas, “99,9% de rock”. Adorará responder, por exemplo, se não é absurdo colocar Jimmy Page, do Led Zeppelin, apenas em quinto lugar em sua lista de cinco melhores guitarristas do mundo.
No pequeno estúdio logo à esquerda na entrada da residência, Rosso executa solos curtos, de piano e de guitarra, para mostrar que manda bem. “Eu sou advogado e músico, mas estou político”, gosta de dizer. Suas performances podem ser vistas no canal que tem no YouTube – como os 11 minutos de Brasilia Magical Journey, composição que compartilha com 35 músicos, num fantástico desfile de guitarras estilosas – ou em sua página do Facebook, por onde passam até 450 mil cliques mensais.
O estúdio é o seu canto preferido da casa no Lago Sul – no momento vazia, porque dona Karina Curi Rosso e os quatro filhos (de 15 a 9) estão passando as férias na Disney. O deputado usa o estúdio para tocar, pelo menos meia hora por dia, para ler e para rezar. É devoto de Nossa Senhora de Lourdes, com peregrinação anual ao santuário, no sul da França. “Rezo muito”, diz, servindo-se de uma bem fornida bandeja de café.
O livro do momento está em uma das pequenas mesas que atravanca o lusco-fusco do estúdio: Regimento Interno da Câmara dos Deputados. São 470 páginas. Ele está no capítulo 12, que trata das questões de ordem. Há muitos grifos de caneta azul e algumas anotações. Não é campanha para a presidência – ele dirá, rindo -, mas uma releitura que vai embasar uma próxima proposta de mudança regimental. “É preciso atualizar e, principalmente, simplificar o regimento da Câmara, fazendo-o dialogar com o do Senado”, explica. Uma das mudanças que vai propor é a criação de um prazo para que uma Casa decida sobre votações da outra, o que hoje não existe.
Músico desde os 15, Rosso formou-se advogado, teve escritório e acabou optando em ser diretor executivo de grandes montadoras de veículos, como Catterpillar, Mercedes-Benz e Fiat, com atuação nos pátios das respectivas fábricas. No final de 2002, a Fiat o convidou para trabalhar no exterior. Ele até quis ir – “estava no auge da carreira”, diz -, mas dona Karina, hoje subsecretária do governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), simplesmente vetou. Ela é filha do empresário Roberto Curi, dono do Grupo Curinga (de pneus, principalmente), e tem a veia política mais grossa que a do marido. Conseguiu, na época do convite profissionalmente tentador, que o então governador Joaquim Roriz, pai de uma velha amiga sua – a hoje deputada distrital Liliane Roriz (PTB) – convidasse seu marido, já pai de Roberta, para secretário de Desenvolvimento Econômico. Rosso aceitou, “para evitar uma situação de extrema infelicidade na família”.
Ganhou, de cara, aos 32 anos, o vício de fumar. Chegou aos cinco maços ou 100 cigarros. Por dia. Parou, de fato, dez anos depois, quando um quase-infarto o levou na correria para o hospital. Chegou a pesar, depois, 132 quilos. Hoje são 100, para 1,94 de altura, mantidos com ciclismo, natação, musculação e disciplina. Acorda às 5h30, regularmente, e dá-se por satisfeito com seis horas de sono.
Rosso passou incólume pelos governos Roriz e, depois, José Roberto Arruda – ambos cenário de muitos escândalos, alguns ainda em tramitação. Ninguém arrancará dele qualquer crítica a nenhum dos dois. “Foram bons gestores e administradores”, limita-se a dizer. “Quanto à conduta ética, cabe à justiça decidir”.
O sogro
Em 2006, com 50 mil votos e o apoio financeiro do sogro, Rosso não passou da primeira suplência à Câmara dos Deputados. Em 2010, com 13 votos, foi eleito governador indireto do Distrito Federal – no mandato-tampão da gestão Arruda, que fora cassado pela Justiça Eleitoral. Rompido com o PMDB de Brasília, por questões políticas locais, entrou no PSD, a convite de Kassab, e candidatou-se novamente em 2014, na base aliada de Dilma Rousseff. Elegeu-se com 93.653 votos. Do R$ 1 milhão que arrecadou para a campanha, R$ 600 mil saíram do sogro e do Grupo Curinga. Sua declaração de bens, na mesma campanha, arrolou quatro imóveis e um carro no valor de custo de R$ 580 mil. O maior imóvel é uma chácara em Cidade Ocidental (GO) – onde planta maracujá e tem um estúdio profissional de gravação desativado pela política. “Não respondo a nenhum processo”, disse. É parte no inquérito 1.055, que tramita no TRE do Distrito Federal, “mas apenas como testemunha da deputada distrital Liliane Roriz”.
Em tempo: os cinco melhores guitarristas do mundo, na lista de Rosso, são, pela ordem, Jimmy Hendrix, Ingwie Malmsteen, Van Halen, Steve Vai e, por último e menos importante, Jimmy Page. Se pedir, ele dará demonstrações de um por um. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.