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Acervo Eleonore Koch é colocado à venda em SP; dia 15, Nova York disputa Pollock

Dois grandes leilões movimentam a semana: o da pintora de origem alemã Eleonore Koch, morta em agosto, que será realizado por James Lisboa amanhã, dia 12, e o do pintor norte-americano Jackson Pollock, cuja tela de número 16 (1950), propriedade do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, será colocada à venda pela casa de leilões Phillips, de Nova York, no dia 15, para saldar dívidas do museu e garantir segurança financeira à instituição para realizar exposições e se manter. A pintura de Pollock, doada ao museu carioca pelo milionário Nelson Rockefeller, em 1952, já tem interessados e deve alcançar algo em torno de US$ 18 milhões (R$ 67 milhões). Pollock é o quarto nome mais caro da história da arte. Uma tela sua alcançou US$ 140 milhões num leilão. Já Eleonore Koch não é conhecida fora do círculo volpiano – a pintora, única aluna de Volpi, está representada nos acervos de todos os colecionadores do pintor. Mas é questão de tempo para sua obra ser disputada também lá fora.

Apesar de figurar em edições da Bienal de São Paulo e ter sido a única discípula de Volpi, a pintora Eleonore Koch (1926-2018) nunca teve a projeção que merecia no Brasil. Em parte porque morou muitos anos na Inglaterra, trabalhando como tradutora juramentada para a Scotland Yard, em parte porque era antissocial. Seu perfeccionismo tampouco combinava com a voracidade do mercado de arte. Brigou com muitos galeristas e não gostava de ver suas pinturas circulando como mercadoria – e a prova disso é o tamanho do acervo que integra o leilão de amanhã, comandado pelo veterano James Lisboa.

Ao morrer, Eleonore Koch, ou Lore, como era conhecida entre os amigos, tinha em sua casa nada menos que 600 obras nessa coleção, de têmperas e desenhos a estudos de sua autoria. Entre os trabalhos de outros artistas nesse acervo figuram uma serigrafia de Albers, primo da artista, uma têmpera sobre papel de Volpi e obras de outros pintores como José Antonio da Silva e Rubem Valentim, pinturas que conservou até a morte, apesar das dificuldades financeiras que enfrentou no fim da vida. Filha de Adelheid Koch (1896-1980), primeira psicanalista do Brasil a ser reconhecida pela Associação Internacional de Psicanálise e fundadora da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Eleonore Koch herdou da mãe o dom da assertividade. Defendia suas ideias com convicção e falava de sua pintura com a certeza do justo valor que ela tem.

Todos os “volpistas – assim chamados os colecionadores de Volpi – têm em sua coleções pinturas de Eleonore Koch, a única a testemunhar o segredo do preparo da têmpera artesanal a ovo pelo pintor. E, pelo interesse demonstrado no leilão e o agendamento das visitas, o leiloeiro James Lisboa está certo de que o pregão vai provocar novas releituras de sua obra e conquistar novos colecionadores: “Essa obra não vai ficar apenas nas mãos dos volpistas, sua circulação vai proporcionar um novo entendimento da pintura de Lore e certamente uma movimentação no mercado não só brasileiro, pois ela trabalhou com galerias londrinas” (Campbell & Franks e Rutland).

O maior colecionador inglês de suas obras fora do Brasil foi o barão inglês Alistair McAlpine (1942-2014), nome ligado à indústria da construção e membro do Partido Conservador. Um incêndio em seu castelo destruiu todo o seu acervo (ele foi colecionador de Rothko, Jackson Pollock e escultores como Naum Gabo e William Turnbull). O fogo consumiu todas as telas de Eleonore Koch. Muitas só sobrevivem nos esboços. Há alguns deles do período londrino no leilão. São da capital inglesa algumas das mais belas paisagens pintadas pela artista, também disputada por suas naturezas-mortas de matriz metafísica, que lembram os espaços vazios de Giorgio de Chirico.

A exemplo de seu mecenas inglês, que doou obras à Tate, incluindo trabalhos de Turnbull, Eleonore Koch, que morreu solteira e solitária, aos 92 anos, foi generosa em seu testamento. Legou à Pinacoteca algumas obras e deixou expresso em testamento o desejo de que o dinheiro arrecadado no leilão de amanhã seja repartido entre amigos, o guarda da rua em que morava, sua cuidadora e uma ONG que cuida de gatos.

Apesar dos gatos, que adorava, eles não são protagonistas de suas pinturas. São os passarinhos. Há, no leilão, telas e desenhos dessas aves que são de uma delicadeza extraordinária. Os esboços trazem todas as informações (cores e tamanhos precisos) para a realização das telas. O leiloeiro James Lisboa agrupou esses desenhos em conjuntos de cinco unidades. Além desses conjuntos estarão no pregão cadernos de desenhos que tinham a mesma finalidade. A obra mais antiga é de 1949, um óleo sobre papel que retrata uma sala de inspiração bonnardiana, trabalho que está no livro publicado pelo editor Charles Cosac com texto do crítico Paulo Venâncio Filho. São poucas as telas que estão no leilão, mas a maioria foi reproduzida no livro, o único dedicado à pintora.

Eleonore Koch é um caso único na arte brasileira. Colorista de talento, dialogou com pintores de outros países, especialmente os ingleses – e é fácil identificar a influência de David Hockney e Patrick Caufield (1936-2005) em suas naturezas-mortas com jarros, vasos ou um enigmático mata-borrão de forma híbrida. Mas, ao contrário de Caufield, não incorporou elementos do fotorrealismo. Usou, sim, fotos como modelos de paisagens, mas essas eram apenas pretextos para a pintura. Tanto as marinhas como os parques ingleses e os desertos pintados por ela não seguem uma ordem cromática realista – com frequência ela pintava o mesmo quadro com diferentes cores. São paisagens desoladas, que se fixam na memória como os desertos de Antonioni ou os parques de Resnais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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