Na reta final da campanha, a corrida eleitoral para o governo da Bahia, que até então transcorria sem obstáculos para o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) começou a mudar de clima, apesar de o candidato ainda manter liderança folgada nas pesquisas contra o seu principal adversário, Jerônimo Rodrigues (PT).
Uma confluência de eventos nas duas últimas semanas acendeu o alerta para o ex-prefeito da capital e levou otimismo aos petistas: a oscilação do resultado de pesquisa eleitoral, a punição da Justiça Eleitoral à coligação de ACM Neto, que suspendeu tempo de rádio e TV, e até uma polêmica envolvendo sua autodeclaração como "pardo" no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A começar pela terceira rodada da pesquisa Datafolha, divulgada nesta quarta-feira, 21, que mostrou ACM Neto com 48% das intenções de votos e Jerônimo com 31%. Na primeira rodada, em 24 de agosto, o ex-prefeito tinha 54% e, na semana passada, 49%. Já Jerônimo começou com 16% e passou a 28% e agora cresceu 3 pontos porcentuais. Antes desconhecido da população, o petista passou a ser o "candidato de Lula" e se beneficiou com a sua capacidade de transferir votos – avaliam as mesmas fontes.
<b>Justiça Eleitoral retira 10 mil segundos da propaganda de ACM Neto</b>
O Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) puniu a coligação de ACM Neto suspendendo quase 10 mil segundos do tempo da propaganda do rádio e TV dando pareceres favoráveis às reclamações do adversário petista.
A campanha de ACM Neto diz que a inflexão na última pesquisa do Datafolha já seria reflexo da suspensão que avalia como "injusta" do tempo no rádio e TV do candidato. O TRE-BA entendeu que houve irregularidade pelo candidato ao invadir os horários destinados às candidaturas para os cargos proporcionais.
Reclamações idênticas contra a campanha de Jerônimo ainda não foram apreciadas pela Corte, alegam os advogados de ACM Neto. O jurídico da campanha do candidato recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que manteve o entendimento do TRE-BA em decisão na última sexta-feira, 16.
ACM Neto chegou a gravar um vídeo pedindo "isonomia" de parte da Justiça Eleitoral. "Estou passando aqui para fazer uma cobrança: que a Justiça Eleitoral dê tratamento isonômico. Nós não queremos nenhuma vantagem. Mas também não vamos aceitar ser prejudicados. Queremos a mesma celeridade e o mesmo tipo de julgamento para a nossa coligação e para a coligação dos nossos adversários", disse ele.
<b>Autodeclaração de ACM Neto como pardo causa polêmica</b>
O fato de ACM Neto ter se autodeclarado como pardo no TSE começou a gerar polêmica em um Estado no qual quase 80% da população se autodeclara negro. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população negra no Brasil é formada por todos os que se autodeclaram pretos e pardos.
A polêmica alcançou seu ápice quando em entrevista ao jornal da <i>TV Bahia</i>, afiliada da Rede Globo no Estado, no último dia 12, foi questionado sobre sua autodeclaração como pardo. ACM Neto, que estava muito bronzeado, perguntou ao repórter quem o considerava socialmente branco, ao que o repórter respondeu: "Toda a sociedade". "Eu me considero pardo. Você pode me colocar ao lado de uma pessoa branca, há uma diferença bem grande. Negro não, jamais diria isso.". Ao ser explicado que pardos compõem a população negra segundo o IBGE, o candidato reagiu: "Então o erro é do IBGE, não é meu. Simplesmente isso".
Ele disse, ainda, que o governador Rui Costa (PT) e o candidato a vice na chapa petista, Geraldo Junior (MDB) têm a mesma cor de pele dele e se declaram pardos. "O político que se diz de esquerda pode se declara pardo e outro não? Isso é preconceito", disse ACM Neto. Dias depois a sua vice, Ana Coelho, alterou no TSE a cor de parda para branca.
<b>Ex-prefeito de Salvador ainda aposta em desnacionalização da disputa na Bahia</b>
A estratégia de desnacionalizar a campanha e manter-se longe da polarização nacional Lula-Bolsonaro supostamente beneficia ACM Neto com votos de eleitores de ambos os presidenciáveis no Estado, uma vez que o candidato reafirma que manterá bom diálogo com qualquer que seja o presidente eleito, em benefício da Bahia.
Essa vantagem, porém, também virou combustível para a campanha de Jerônimo, que o tem taxado de "candidato do tanto faz". Praticamente todas as peças do PT e aliados tocam nessa questão. "A Bahia tem lado" ou "Sem essa de tanto faz, muda Brasil, avança Bahia".
O candidato do presidente Bolsonaro, João Roma (PL), também toca no tema, de outra forma: exibe as imagens de ACM Neto em entrevista declarando que ele não defende o que governo Bolsonaro fez nos últimos 4 anos. "Tanto não que não estou fazendo campanha pra ele (Bolsonaro). Ele (Bolsonaro) tem outro candidato no estado", disse ACM Neto. Roma finaliza: "Quem vota Bolsonaro, vota Roma na Bahia".