Se fossem vendidas em um supermercado, elas ficariam no pé da prateleira, lá onde o cliente precisa se esforçar para ver o preço e conseguir ler o rótulo do produto. As chamadas small caps são ações de empresas com menor valor de mercado quando comparadas às de grande porte.
E apesar de pouco famosas, menos negociadas e mais baratas, hoje elas estão nas recomendações de especialistas para quem topa assumir uma dose extra de risco em troca de uma chance de retorno ampliado daqui a três ou a quatro anos.
Para as corretoras e os analistas de investimento, esses ativos, que se habituaram a viver na sombra do mercado financeiro, devem ganhar espaço daqui para a frente – isso considerando que o ciclo de taxa básica de juros da economia se sustente nos patamares atuais (hoje, a Selic está em 6,5% ao ano) e o bom momento da Bolsa supere as incertezas do cenário político, permanecendo mais algum tempo no azul.
“Com o retorno da renda fixa em queda e a demanda crescente por renda variável, que encarece as ações mais líquidas, o aplicador começa a procurar papéis mais baratos e com bom potencial de retorno”, explica o professor de pós-graduação da Fipecafi Nilton Belz.
Tamanho
O termo small caps é empregado pela B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, para designar as empresas com até R$ 10 bilhões em valor de mercado (o número de ações negociadas multiplicado pelo valor de cada uma delas).
São papéis de baixa liquidez, justamente por não estarem nas mãos de muita gente. E, apesar do adjetivo small (pequena, em português), a categoria reúne nomes como a incorporadora Cyrela, as companhias aéreas Gol e Azul e a fabricante de carrocerias Marcopolo – empresas que, pela lógica, não podem ser qualificadas como de pequeno ou médio porte.
“Muitas empresas são grandes, de fato, mas têm poucas ações negociadas em Bolsa e, por isso, estão classificadas como small caps”, explica o gestor de carteiras Luiz Pardal.
O analista afirma que o momento é favorável para esse tipo de ativo. Segundo ele, todas as vezes em que o Ibovespa, o índice com as ações mais relevantes da B3, vive um bom momento, o Small, que é por sua vez o índice das ações de baixa liquidez, vem a reboque, com algum atraso no tempo.
Neste ano, o Ibovespa acumula alta de 11,47%. Já o Small subiu 4,03% no período. “Estou há 40 anos nesse mercado e há 40 anos é assim. Em algum momento o Ibovespa vai parar de crescer tanto e o Small vai disparar e se aproximar”, afirma.
No limite
Existem algumas explicações para que os dois índices andem lado a lado, mas em tempos distintos. A mais simples é que os investidores tendem primeiro a aportar recursos nas ações mais famosas para, depois, seguir em busca das menos conhecidas, ou seja, à procura de pechinchas.
Outra razão, mais sofisticada, envolve o porte das empresas e a capacidade de caixa de cada uma delas. Uma companhia de R$ 100 bilhões tem mais facilidade para se adaptar a um revés, como a crise econômica que o País enfrentou nos últimos anos. Já uma de empresa de R$ 100 milhões tem orçamento mais apertado e, geralmente, opera “no limite” de sua capacidade física.
“Simplificando, uma empresa com 1 mil funcionários e quatro fábricas pode dispensar 100 trabalhadores em uma crise e desativar uma das unidades. Já uma empresa com três empregados não consegue reduzir despesas da mesma forma quando precisa”, explica Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper e também planejador financeiro pela Planejar.
Justamente por isso, as small caps são consideradas um nível acima na esfera de risco do mercado de renda variável, que já é considerada arriscada por si só.
“Apesar de ser mais fácil uma empresa de R$ 50 milhões dobrar de tamanho do que uma de R$ 100 bilhões, a companhia de R$ 50 milhões pode se transformar em quase nada muito mais rapidamente do que a concorrente bilionária. Essa lógica faz com que o mercado de small caps não seja para qualquer um”, define o analista da XP Investimentos Marcos Saravalle. “E mesmo a quem gosta de risco, eu recomendo alocar no máximo 10% do portfólio de investimentos nesse setor.”
Alta
Apesar de, neste ano, ainda correr atrás da rentabilidade do Ibovespa, o índice de small caps entrou no radar dos investidores em 2017, após uma rápida recuperação que acompanhou o bom humor do mercado nos meses anteriores à delação dos donos da JBS em maio.
As ações de small caps resistiram na dianteira das aplicações ao longo de todo o ano e, hoje, considerando os últimos 12 meses, acumulam alta de 33,83%, frente os 31,06% do Ibovespa.
Em uma simulação realizada por Michael Viriato, planejador financeiro pela instituição Planejar, o aplicador que aportou R$ 100 em uma carteira de ações que replique o índice de small caps da B3 e outros R$ 100 em uma carteira de Ibovespa no dia 30 de dezembro de 2015, chegou ao final do ano seguinte com R$ 138,94 no último indicador, contra R$ 130,27 nas ações de baixa liquidez do mercado.
No último dia útil do próximo ano, 29 de dezembro de 2017, a situação já era distinta. O índice de small caps pagava ao aplicador R$ 194,92, contra R$ 176,25 do Ibovespa, R$ 10,6% de diferença. “O crescimento das empresas pequenas é mais rápido no caso das grandes”, diz o especialista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.