As negociações com o Canadá para ampliar a importação de fertilizantes ao Brasil devem resultar na entrada de aproximadamente 400 mil toneladas do insumo no Brasil, um volume 10% superior ao que os canadenses já exportam para o País, algo em torno de 4 milhões de toneladas por ano.
O <b>Estadão</b> apurou que essa é a projeção que foi apresentada à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, na viagem que fez ao Canadá, nesta semana. O governo brasileiro tenta buscar alternativas de importação do insumo, devido às dificuldades impostas pela guerra entre Rússia e Ucrânia. A Rússia é o maior vendedor de fertilizantes para o Brasil, que agora busca alternativas para evitar o eventual desabastecimento deste insumo fundamental para a produção agrícola.
As tratativas do Brasil com o Canadá não envolvem acordos comerciais entre os dois países, mas sim contratos diretos entre empresas privadas. Do lado do governo, o que coube à ministra Tereza Cristina, além da sinalização política e diplomática, foi a garantia de que irá reduzir ao máximo a burocracia alfandegária nos portos brasileiros, acelerando a entrada dos navios canadenses no Brasil, com prioridade nas filas de entrega. Sobre impostos, não há mais o que fazer, porque todos os tributos brasileiros já foram retirados.
O porto de Paranaguá é a principal porta de entrada dos fertilizantes. Em 2021, 11 milhões toneladas do insumo entraram no Brasil pelo porto paranaense, um crescimento de 14,5% em relação a 2020. Sozinho, Paranaguá respondeu por 28% do total importado por todos os portos nacionais.
As empresas canadenses Mosaic e Nutrien, que já atuam no Brasil, controlam praticamente 85% da produção de fertilizantes naquele país. Juntas, elas também são donas da empresa Canpotex, que faz toda parte de negociação e logística dos insumos, desde a saída das minas, até seu embarque em navios e entrega em outros países, como o Brasil. Tereza Cristina se encontrou com os executivos dessas empresas, em sua passagem pelo Canadá.
Do lado das empresas, há interesse em ampliar as exportações, mas as companhias também pedem um acordo de médio e longo prazo, porque a ampliação de produção implica em investimentos pesados para mineração e transporte. Na prática, querem a garantia de que terão demanda, mesmo que a situação internacional com a Rússia se resolva mais rapidamente.
"A visita da ministra foi bem-sucedida. Há um enorme respeito no Canadá por ela. A visita foi em cima de questões técnicas", disse ao <b>Estadão</b> o embaixador do Brasil no Canadá, Pedro Borio.
Produção nacional. O governo brasileiro reforçou seu interesse em projetos de produção nacional de potássio, projetos que também interessam aos canadenses, que já são donos da maior parte dos pedidos de pesquisa de potássio no Brasil. A Mosaic, por exemplo, é dona de mina de potássio em Sergipe.
A ministra Tereza Cristina destacou que a necessidade de produção nacional já era uma prioridade há mais de um ano. "Essa super dependência das importações tem que mudar. Nós não queremos ter autossuficiência, mas temos que produzir 40%, 50% das nossas necessidades, para estarmos mais calçados se isso acontecer de novo", disse Cristina.
Os dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) apontam que, em 2021, o Brasil importou um total de 39,2 milhões de toneladas do insumo, um crescimento de 19,3% em relação a 2020, quando 32,8 milhões de toneladas entraram no País. A produção nacional de fertilizantes chegou a quase 7 milhões de toneladas, o equivalente a 15% do total consumido.
O Brasil adquire no exterior aproximadamente 85% do volume aplicado anualmente nas lavouras. A Rússia é uma das principais exportadoras do insumo para o Brasil e, em janeiro, respondeu por 30,1% dos adubos e fertilizantes que entraram em território nacional, segundo informações do Ministério da Economia. Durante os 12 meses do ano passado, os russos foram responsáveis por 23,3% de todo fertilizante que entrou no Brasil. Mesmo com o conflito, embarques de fertilizantes da Rússia continuam a chegar no Brasil.