O rascunho do acordo que deve ser assinado pelos países ao fim da Conferência do Clima de Glasgow (COP-26) acrescenta pouco ao compromisso das nações mais ricas em financiar os países em desenvolvimento. Essa é a avaliação de empresários e pesquisadores que acompanham a COP. Para eles, a colaboração dos mais ricos com os mais pobres é fundamental para o futuro do planeta. "Mas, infelizmente, os países mais ricos têm colaborado muito pouco", disse Carlos Nobre, climatologista da USP.
O rascunho do acordo prevê US$ 100 bilhões até 2023 para ações contra as mudanças climáticas em países em desenvolvimento. O valor é o mesmo previsto no acordo de 2009, que não foi cumprido e hoje é visto como insuficiente.
A avaliação de Nobre foi feita no seminário "Novos caminhos para a humanidade", iniciativa do <i>Estadão</i> em parceria com as empresas Vale e Klabin. O evento, online, discutiu o incentivo à diminuição das emissões de gases do efeito estufa e o seu papel para reduzir o impacto no clima.
<b>MERCADO DE CARBONO</b>
O diretor de sustentabilidade da Vale, Hugo Barreto concordou com Nobre. Segundo ele, as nações têm de avançar principalmente na regulamentação do mercado de carbono. "Isso é fundamental para áreas industriais como a mineração eventualmente compensarem emissões comprando créditos."
O mercado de carbono visa a criar um crédito para nações com maiores dificuldades de cumprir as metas de redução de gases do efeito estufa investirem em países menos desenvolvidos. Apesar da expectativa em torno da regulamentação, o rascunho é avaliado como "nebuloso" nesse ponto.
Para Carlos Nobre, apesar de existir o consenso de sua importância, estes recursos não chegam àqueles que mais precisam de dinheiro para alterar sua matriz energética. "São os que pagam a conta mais alta das mudanças", disse.
Nesta quarta-feira, o financiamento também foi tema de reunião entre o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e o enviado especial dos Estados Unidos para o clima, John Kerry. No encontro, o brasileiro afirmou que os recursos precisam aumentar por serem insuficientes e não terem sido cumpridos nos últimos anos.
Apesar de mais alguns dias de negociação até o acordo, a avaliação de Carlos Nobre é de que o financiamento "não parece que vai se resolver nesta COP". "Pode ser que até sexta-feira isso seja alterado, mas precisamos esperar", disse.
<b>METAS</b>
Nobre também avaliou que o Brasil apresentou metas desafiadoras na COP-26 e precisa "de um gigantesco esforço" para cumpri-las. O País se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2030 e reduzir as emissões de carbono e metano. As metas, porém, foram recebidas com desconfiança devido às posturas do governo na COP de 2019, que foi um entrave para as negociações.
O diretor-geral da Klabin, Cristiano Teixeira, que está em Glasgow, destacou no seminário que as empresas têm amadurecido a discussão com relação à urgência climática nesta COP. "As empresas atentas estão enxergando esse movimento histórico, cultural e comportamental de mudanças", disse.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>