Mundo das Palavras

Acredito é na rapaziada

O terrível desvirtuamento da finalidade da imprensa ocorrida, há alguns anos, nos Estados Unidos começou a ser reproduzida no Brasil, a partir de 2005, por Roberto Civita, dono da Editora Abril, num pacto estabelecido com a Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo. Sustentou Luís Nassif – quatro vezes considerado o melhor jornalista de Política e de Economia do País – numa entrevista concedida em Salvador, à TV Educativa, no último dia 23. 
 
Através daquele pacto – ele disse -, os quatro grandes grupos de mídias adotaram no Brasil a prática empresarial criada por Rupert Murdoch, dono da News Corporation, gigantesco conglomerado de veículos de comunicação. Descrita pelo repórter inglês Nick Davies, no livro “Vale-tudo da notícia”: trata-se de usar as mídias, não para informar, mas para desestabilizar governantes, criando uma desestruturação da ordem política, com a publicação de vazamentos de informações sigilosas e mentiras. Da qual resulte grave crise econômica. Propícia para a implementação de “medidas impopulares que tendem a subtrair direitos e prerrogativas de sociedades inteiras, mas que beneficiam amplamente alguns segmentos dominantes do capital”. Conforme a agenda proposta por Milton Friedman, na sua Doutrina do Choque. 
 
A descrição desta doutrina, também chamada de Capitalismo de Desastre, foi feita pela doutora em História Maria Cury. Num artigo sobre a Doutrina do Choque, pesquisada por Naomi Klein. Tais medidas – ela prosseguiu – “precisam ser tomadas e aplicadas nas circunstâncias em que a maior parte das pessoas está sob o efeito do choque e, portanto, sem condições de reagir positivamente. E é preciso agir rapidamente. Aproveitar o estado generalizado de abatimento e dor para obter as maiores vantagens”. 
 
Com lembra Maria Cury, uma das medidas mencionadas por Naomi Klein foi a venda de “partes do Estado a investidores privados”. Hoje, inevitavelmente, associada à intenção do Governo Temer de entregar a riqueza do pré-sal a empresas estrangeiras. 
 
Nassif, num único momento da entrevista pareceu esperançoso. Foi quando se referiu aos estudantes que resistem à perda de Direitos Civis pelos brasileiros: “Vi todas as gerações que surgiram no bojo da luta contra a Ditadura. Mas a que está vindo é a melhor. Tem muita força”. Dois dias depois, em Curitiba, a secundarista Ana Júlia Ribeiro, de 16 anos, disse aos deputados do Paraná, da tribuna da Assembleia Legislativa: “Vocês têm as mãos manchadas de sangue”. 
 
Décadas antes, na Ditadura Militar, Gonzaguinha compôs a música: “Eu acredito é na rapaziada”. 
                
 
 
 

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