Internacional

Acusação a juiz fortalece poder do voto feminino na eleição legislativa dos EUA

O vídeo de duas mulheres confrontando o senador republicano Jeff Flake, na sexta-feira, 28, na porta de um elevador, espalhou-se pela internet. Aos prantos, uma delas dizia ter sido vítima de abuso sexual e acusava o congressista de ignorar seu sofrimento. Flake havia indicado seu voto a favor da confirmação do juiz Brett Kavanaugh, acusado de assédio, à Suprema Corte. A bronca dada no senador mudou o jogo.

A imagem das mulheres no elevador do Senado ressuscitou o movimento conhecido como #MeToo, que já havia dado sinais de vida após as acusações contra Kavanaugh. O voto nos EUA não é obrigatório, mas as mulheres costumam comparecer às urnas mais do que os homens. O caso, portanto, aumentou ainda mais o peso feminino na disputa eleitoral de novembro, quando os americanos podem mudar a composição do Congresso.

A democrata Alexandria Ocasio-Cortez é uma das mulheres que compartilhou o vídeo de Flake. Ela disputa uma vaga na Câmara dos Deputados e passou a dedicar parte de sua campanha ao debate sobre Kavanaugh. “Na prática, a presunção de inocência é um luxo de poderosos e ricos”, escreveu Alexandria no Twitter. Na semana passada, ela chamou o #MeToo de um “despertar”. Foi aplaudida e disse que a raiva das mulheres seria direcionada ao processo político.

Entre as mulheres, cresceu a porcentagem das que preferem votar em democratas – 58% a 34%, segundo o instituto Gallup. Em junho, a diferença era menor: 51% das mulheres preferia os democratas; 43%, os republicanos. “As mulheres não se sentem bem com os republicanos, considerando as sérias alegações de agressão sexual”, disse à CNN Sally Kohn, autora do livro The Opposite of Hate (“O oposto do ódio”, em tradução livre).

O número de candidatas concorrendo bateu recorde, tanto na Câmara como no Senado. Nas eleições de novembro, pelo menos seis disputas ao Senado se darão apenas entre mulheres: Nova York, Nebraska, Washington, Wisconsin, Minnesota e Arizona. Atualmente, de 100 senadores, 23 são mulheres. Na história do Senado americano há apenas 52 mulheres.

Segundo o Center for American Women and Politics, da Rutgers University, 257 mulheres estão concorrendo a uma vaga no Congresso. A maior parte é pelo Partido Democrata: 183 candidatas à Câmara e 15 ao Senado. Mesmo com o crescimento, o total de candidatas representa 32,4% do total dos candidatos ao Senado e 28,7% à Câmara.

Alteração

O Gallup indicou que a aprovação à Suprema Corte caiu entre as mulheres e cresceu entre os homens, em pesquisa feita antes do escândalo de Kavanaugh. Enquanto 60% dos homens aprovam o trabalho do tribunal, apenas 43% das mulheres dizem o mesmo. No ano passado, homens e mulheres tinham avaliação semelhante: 50% deles se dizia satisfeito com o trabalho da Suprema Corte, enquanto, entre elas, a porcentagem era de 49%.

O caso de Kavanaugh mobilizou mulheres. O movimento Womens March organizou 50 manifestações em 29 Estados em solidariedade à mulher que acusa o juiz. Um dia antes do depoimento de Kavanaugh, a juíza da Suprema Corte Ruth Bader Ginsburg também entrou no debate e enalteceu o movimento #MeToo. RBG, como a juíza é conhecida, se tornou um símbolo da representação feminina no Judiciário.

Em Washington, Ginsburg disse para alunos da Georgetown University que o #MeToo uniu as mulheres. “Toda mulher da minha época não tem só uma história, mas várias histórias. Mas nós pensávamos que não havia nada que pudesse ser feito em relação a isso – garotos serão garotos”, disse, sem citar o nome de Kavanaugh, que poderá dividir com ela as sessões da Suprema Corte americana.

A história da juíza feminista virou documentário lançado este ano nos EUA e seu rosto estampa camisetas, canecas e broches vendidos no coletivo feminista Bulletin, que tem duas lojas em Nova York.

As irmãs Francesca e Vici Reitano passaram 5 horas de uma viagem de ônibus de Nova York até Washington acompanhando os depoimentos na Comissão de Justiça do Senado pelo celular. “É realmente importante, porque a Suprema Corte é a mais alta do país. Se ele é criminoso ou desonesto, temos de investigar para saber se isso é verdade. Ele é um juiz e estará julgando outras pessoas”, disse Vici.

“Esta é uma regra que vale para toda a vida”, completou Francesca. Ambas, no entanto, estavam céticas com relação à possibilidade de o escândalo fazer os republicanos ou o presidente Donald Trump mudarem de ideia sobre a indicação do juiz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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