Ex-número 1 do Brasil, o tenista João Souza, mais conhecido como Feijão, foi banido do esporte neste sábado pela Unidade de Integridade do Tênis (TIU, na sigla em inglês). O atleta de 31 anos foi condenado por ter cometido "múltiplas infrações de manipulação de resultados e violações relacionadas à corrupção", segundo o órgão internacional. Foi ainda multado em US$ 200 mil, equivalente à R$ 834 mil. O jogador, que já estava suspenso provisoriamente, nega as acusações.
"Uma investigação da Unidade de Integridade do Tênis estabeleceu que, entre 2015 e 2019, o jogador cometeu diversas infrações on Programa Anticorrupção do Tênis. Isso inclui repetidos incidentes de manipulação de resultados em torneios de nível Challenger e Futures disputados no Brasil, México, Estados Unidos e República Checa", informou a TIU, em comunicado oficial.
A entidade, criada pela ATP, WTA, ITF e pelo Grand Slam Board, alegou ainda que Feijão cometeu infrações ao não denunciar casos de corrupção no esporte, não cooperar com as investigações e por também solicitar que outros tenistas não jogassem "em seus melhores níveis".
A decisão, divulgada somente neste sábado, foi tomada em audiência realizada no dia 14 deste mês, sob a liderança do professor Richard McLaren. Conhecido por liderar as investigações que causaram as punições por doping ao esporte russo nos últimos anos, ele foi o responsável por julgar o caso.
Pela decisão, Feijão não pode mais participar das competições oficiais do circuito e nem mesmo estar presente em eventos promovidos por ATP e ITF. O ex-número 1 do Brasil já ocupou o posto de 69º do ranking mundial em simples. Atualmente é o 742º. Feijão nunca conquistou títulos de nível ATP, mas ficou famoso por participar da partida mais longa da história da Copa Davis, em 2015 – trata-se do segundo mais longo da história em todas as competições.
A punição aplicada ao tenista brasileiro é a segunda mais pesada já aplicada pela TIU. Só está abaixo da dura sanção sofrida pelo italiano Daniele Bracciali em 2018. Ele também foi banido do tênis, porém com multa maior: US$ 250 mil. Entre os brasileiros já punido por entidades internacionais, Feijão foi quem sofreu a pena mais severa. No ano passado, o gaúcho Diego Matos também foi banido.
O caso de Feijão vinha se arrastando desde o ano passado, entre idas e vindas inesperadas. Ele havia sido suspenso inicialmente em abril por manipulação de resultados. No entanto, apenas dois dias depois a punição foi revogada. O jogador chegou a voltar a jogar, mas voltou a ser suspenso. Na época, a TIU alegou que havia provas adicionais contra ele. Desde então, o atleta vinha cumprindo a suspensão provisória.
DEFESA – Em contato com o <b>Estado</b>, o advogado do atleta, Michel Assef Filho, avisou que vai recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês). Ele negou que Feijão tenha se envolvido em qualquer caso de manipulação de resultados e disse que o tenista contribuiu com as investigações, diferentemente do que alega a TIU.
"O comunicado da TIU diz que o João teria apagado provas. Isso não é verdade. O João entregou o celular, a senha do celular, a senha do Facebook. Solicitaram extratos bancários e ele entregou tudo o que tinha. Toda e eventual conta que tivesse em aplicativos, entregou tudo. Até concedeu uma entrevista à equipe de investigação sem saber quais perguntas seriam feitas. Isso não é atitude de quem pratica ato de corrupção", disse o advogado.
No entanto, Assef Filho admitiu que o jogador não jogou com "seus melhores esforços" por questões pessoais. "Ele estava num momento difícil, de separação, com a filha recém-nascida. E isso ficou provado nos autos com depoimentos das testemunhas, arroladas pela própria acusação. Os atletas que disputaram os jogos de duplas com o João afirmam que, de fato, ele tinha viagem marcada para após o jogo. Ele havia comprado as passagens antes da partida porque não queria jogar. Ele confessou que não utilizou os melhores esforços em alguns jogos e isso é uma infração, sim. Mas deveria ter uma punição muito mais branda."
O advogado afirmou também que, se o tenista fosse alvo de um processo judicial, dificilmente teria sido condenado. Ele explica que, por ser um julgamento de cunho administrativo, o atleta está sujeito a punições mesmo sem a apresentação de "provas cabais".
"A questão é que o programa anticorrupção acaba punindo quando ele se convence de que há atitude que pode ser considerada como corrupção. É diferente de um processo judicial, que exige prova cabal do cometimento de uma corrupção. Se fosse uma processo judicial, dificilmente teria uma condenação."
Neste aspecto, ele também criticou a multa aplicada. "Não tem qualquer fundamento. Para aplicar multa, você tem que, de fato, ter a prova de recebimento de valor. E nos autos não tem nenhuma evidência de que o João teria recebido algum dinheiro, nada, zero", declarou o advogado.