Estadão

Acusações de Harry cansam britânicos às vésperas de coroação

As recentes acusações do príncipe Harry e da sua mulher, Meghan Markle, sobre os bastidores da monarquia britânica, no período entre a morte da rainha Elizabeth II, em setembro, e a coroação de Charles III, prevista para maio, tiveram um efeito negativo maior sobre a duque e a duquesa de Sussex que nos membros da família real.

Harry deu sua versão para episódios envolvendo a Casa de Windsor no livro O que Sobra, publicado no dia 10, e na série Harry e Meghan, da Netflix, lançada em dezembro.

A obra bateu recorde de vendas para o gênero autobiografia no Reino Unido em menos de duas semanas, com 1,4 milhão de cópias vendidas. Já a série foi vista por mais de 2,4 milhões de pessoas, segundo a plataforma.

Pesquisas de opinião e especialistas na família real indicam que o público britânico está de certa forma cansado das afirmações de Harry, em meio ao luto pela morte de uma figura muito querida no Reino Unido e às preparações para a ascensão do novo monarca.

Na série e no livro, assim como em entrevistas de divulgação, Harry relatou ter sido agredido pelo irmão e detalhou discussões com o pai e a madrasta após sua saída da família real.

"Harry já falou tanto que as pessoas provavelmente pensarão: Oh, pobre Charles – é como um drama de Shakespeare com um filho rebelde", disse Pauline Maclaran, especialista em monarquia da Royal Holloway, Universidade de Londres. "Acho que as pessoas podem se relacionar com essas brigas. Mas eles não se identificam tanto com Harry, pois ele não reconhece nenhuma falha. Realmente, todos os outros são os culpados – até mesmo seu famoso uniforme nazista (usado em festa à fantasia em 2005) é culpa de William e Kate."

<b>Em baixa</b>

Pesquisas de popularidade conduzidas pela empresa britânica YouGov nos dias seguintes ao lançamento do livro mostraram uma leve queda na aprovação dos ingleses à monarquia e aos membros mais citados nas memórias, Charles, William e Kate, mas não o suficiente para torná-los impopulares.

Entre setembro e janeiro, a aprovação à monarquia recuou de 68% para 54%. A imagem positiva de Charles perante os britânicos caiu de 67% para 60%.

Já o membro mais popular da Casa de Windsor após a morte da rainha, William, príncipe de Gales, teve uma queda mais acentuada: o herdeiro do trono viu a aprovação ir de 81% para 69%. Sua mulher, Kate Middleton, teve um recuo de 75% para 69% em sua aprovação.

Harry, por outro lado, sofre uma queda na aprovação desde 2017, quando anunciou o noivado com Meghan, e bateu o recorde de impopularidade, com 26%. Meghan também aparece com um índice de popularidade baixo no Reino Unido, atrás apenas do príncipe Andrew, envolvido em escândalos sexuais.

Desde que renunciaram a seus deveres reais, o casal denunciou ataques racistas contra Meghan por parte um membro da realeza. Na últimas entrevistas que concedeu, na intenção de divulgar o livro, Harry disse que a rainha consorte se aproveitou da crescente impopularidade do casal para entregá-los aos tabloides, sempre hostis a Meghan.

"A relação do casal Harry e Meghan foi vista como positiva para a família real por um tempo, especialmente por ela ser uma mulher divorciada e afro-americana, alguém que trazia um ar de modernidade para a família real", lembra o professor de Relações Internacionais da Ibmec-BH, Christopher Mendonça.

No fim, o que as exposições provocam é uma divisão em parte da opinião pública dentro e fora do Reino Unido. De um lado há quem acha que Harry está sendo corajoso por falar – comparando-o com Diana -, de outro há quem o considera um traidor.

<b>Relacionamento</b>

"A questão aqui é o momento – este é um momento de mudança de reinado em que o público está reavaliando seu relacionamento com a monarquia e Charles está estabelecendo seu relacionamento com seus súditos", afirma Elena Woodacre, pesquisadora na Universidade de Winchester e fundadora da Royal Studies Network. "É um momento delicado e o livro de Harry e a luz pouco lisonjeira que lança sobre o rei, sua consorte e seu herdeiro não ajudam firmar o vínculo entre a realeza e o público."

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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