Mundo das Palavras

Adelina e Artur


Os dois personagens são reais. Suas histórias foram iniciadas no princípio dos anos de


1900, em locais diferentes do Brasil. Mas, a partir de 1930, convergiram para o Rio de Janeiro,onde se encerraram. Tendo como único cenário o Museu de Imagens do Inconsciente, instalado no Instituto Municipal de Assistência à Saúde, antigo Centro Psiquiátrico Pedro II.


 


Adelina Gomes era uma jovem pobre de Campos, no Rio de Janeiro. Nasceu em 1916,


numa família de camponeses. “Fez o curso primário e aprendeu variados trabalhos manuais”, diz o site do museu. “Era tímida e sem vaidade, obediente aos pais, especialmente apegada à mãe”. Aos 18 anos, Adelina se apaixonou por um homem. Que, porém, foi rejeitado por sua mãe. Adelina desistiu de sua paixão. Mas se tornou cada vez mais retraída, acrescenta o site. Do retraimento, ela passou à agressividade. Chegou a ser vista como perigosa. E, foi internada no Pedro II. Lá, começou a criar bonecas, as quais chamaram a atenção de um pintor: Almir Mavignier. Ele havia ajudado a psiquiatra Nise da Silveira a criar o Museu do Inconsciente. No museu, levada por Almir, Adelina começou a produzir figuras em barro “que impressionam pela sua semelhança com imagens datadas do período neolítico”, diz o pintor, no site. Depois, ela se dedicou à pintura e à confecção de flores de papel. Em algumas de suas pinturas, Adelina recriou as transformações por que os vegetais passam. Esta sua recriação foi comparada por Nise da Silveira, num estudo que alcançou grande repercussão, às transformações sofridas por Dafne, ninfa da mitologia grega.


 


Adelina produziu cerca de 17.500 obras, “com intensa força de expressão” – Almir acrescenta. E, se tornou uma pessoa dócil e simpática, sempre concentrada em seu  trabalho. Ao longo de muitos anos, a produção plástica de Adelina alimentou as pesquisas sobre o inconsciente de Nise da Silveira. Os resultados destas pesquisas apoiadas nas suas criações foram temas de exposições, filmes, documentários e publicações, informa ainda o site. Morreu em 1984.


 


O outro personagem, Artur Amora chegou ao Museu do Inconsciente no final dos anos de 1940. Queria pintar. Mas – dizia – não sabia desenhar. Almir Mavignier o estimulou a encontrar algo que quisesse reproduzir. O resto da história o próprio Almir conta: Artur se encantou com peças de dominó. Copiou inteiramente seus desenhos. “Depois, começou a simplificá-los, abandonando os pontos, e, cobrindo as faixas brancas e pretas”. Rompeu ângulos, encontrou curvas, e, criou estruturas de forte contraste ótico. Artur passou a criar composições às quais deu nomes de partituras musicais de Beethoven, Schubert e Chopin. Para ele, eram suficientes as cores branco e preto. Isto tudo entre os anos de 1949 e 1951, quando, no eixo Rio-São Paulo, artistas influenciados pela pintura concreta, geométrica, da Suiça discutiam quais seriam os protagonistas do Concretismo, no Brasil, acrescenta Almir – ele próprio considerado um dos introdutores deste movimento em nosso país.


 


Almir reconhece: “Os trabalhos de Amora revelam um geometrismo conseqüente e livre de influências estrangeiras”.


 


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP

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