Adriana Calcanhotto nunca tinha pensado em morar fora do Brasil. “Talvez eu não tivesse ímpeto de ir para Portugal e ficar”, afirma ela, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, já de volta ao Rio e agora em turnê com o show A Mulher do Pau Brasil. Mas foi surpreendida. Primeiro, ao ser convidada para ser embaixadora da Universidade de Coimbra, em 2015, e, depois, para dar aulas na própria universidade. “Como embaixadora, pensei que poderia estudar, frequentar bibliotecas, mas aí eles queriam que eu desse aulas. Então, fiz essa primeira estadia, que eram masterclasses, com um tempo para olhar a cidade, e fazer residência artística ao mesmo tempo”, conta. “Deu tão certo que eles pediram para voltar, mas ministrando um curso e, há pouco tempo, me chamaram e vou voltar para uma terceira estada no ano que vem.”
E qual é o papel da embaixadora da universidade? “Não tenho nenhuma tarefa específica. As coisas que faço e o público com o qual tenho contato é o que eles querem, porque é um universidade que tem tradição, mas o que querem mostrar é que estão vivos e abertos. Eles adoram os alunos brasileiros, querem mostrar essa abertura, chamar uma pessoa que não é da Academia para ir lá conversar”, responde. “Por enquanto, sou a única embaixadora da Universidade de Coimbra, espero que pensem em mais pessoas pelo mundo.”
Nas masterclasses, ela chegou a falar para 500 pessoas. Já em seu curso, sobre como escrever canções, ministrou aulas para um grupo mais reduzido. “Eu nunca tinha tido experiência de ter um curso com os mesmos alunos, que fazem perguntas, tenho de voltar a estudar para responder àquilo, me fazem ver a coisa de um outro ponto de vista, porque têm outra formação. Na minha turma, tinham portugueses de vários lugares de Portugal, brasileiros de vários lugares do Brasil, tive um aluno angolano, gente um pouco mais madura, gente bem jovem, uns de Direito, uns de Psicologia, de Engenharia Química, gente até da Literatura (risos). Foi riquíssimo.”
Em Portugal, a rotina acadêmica lhe deu possibilidade de ter mais tempo livre, para ler, compor. “Entre 2016 e 2018, fiz algumas composições, porque essa segunda ida para dar aula – não eram masterclasses, era curso mesmo -, eu tinha uma rotina de aulas, estava mais organizada e com mais tempo livre para compor, mas nem todas essas canções, essa produção era relativa ao show.” Assim nasceu a canção A Mulher do Pau Brasil, composta para o início da turnê. E, ali, além de professora, Adriana é também aluna. E tem se dedicado, por exemplo, a estudar arqueologia. “Larguei o colégio para fazer música. Não é porque eu não gostasse de estudar, é que eu não aguentava o ritual, as matérias que não me interessavam, eu achava que perdia tempo.” Adriana conta que saiu do colégio no segundo ano do que seria hoje o ensino médio. “Eu não conseguia ir à aula, comecei a ir de noite aos bares para ver as pessoas tocarem e não conseguia acordar. O grave é que, na escola, minha mãe era professora. E peitei (os pais), quero fazer música.”
No campo pessoal, passar esse período em Portugal também foi importante, após a morte de sua companheira, Suzana de Moraes, em 2015? “Foi, conheci muitas pessoas lá, e o tempo mais alargado para ficar lá, ler, pensar. Ir para lá não é para fugir dos problemas do Brasil, é justamente para olhar melhor para o Brasil, que é tudo o que sempre aconteceu nessa tradição dos estudantes brasileiros que vão para lá e veem o Brasil de outra maneira, e nunca mais se consegue olhar o País de outra forma.”
A MULHER DO PAU BRASIL
Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, tel: 3095-9400. Dias 6, 7 e 8 de setembro, às 21h; dia 9, às 18h.
R$ 15/R$ 50.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.