Estadão

Ações da Petrobras impedem queda forte no fechamento do Ibovespa

O Ibovespa perdeu força no período da tarde desta quinta-feira, migrando de ganhos para perdas no dia, com a relativa satisfação decorrente de endurecimento do viés do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a inflação, no comunicado da quarta à noite, dando lugar à retomada de temores sobre a situação fiscal, com a proposição de novo Refis em que empresas e mesmo pessoas físicas poderão utilizar precatórios federais, próprios ou de terceiros, para amortizar o saldo devedor remanescente. O parecer do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) foi interpretado como um pacote de coloração pouco fiscalista, no momento em que o governo busca ganhar tração, com as urnas de 2022 adiante.

Depois do "devo, não nego, pago quando puder", do ministro Paulo Guedes (Economia), e da insistência do presidente Jair Bolsonaro em elevar o Bolsa Família a R$ 400, mesmo ante resistência da equipe econômica a tal valor, a conjugação de parcelamento de precatórios com ampliação de programa social visando à reeleição tem ferido a confiança do mercado.

Assim, o forte balanço e a sinalização da Petrobras (ON +9,63%, PN +7,88%) sobre dividendos foram o que impediu nesta quinta o Ibovespa de mergulhar em correção mais intensa. No fechamento, o índice da B3 mostrava baixa de 0,14%, a 121.632,92 pontos, entre mínima de 121.128,39 e máxima de 123.540,76, com giro financeiro reforçado nesta quinta-feira, a R$ 42,0 bilhões.

"Não fosse Petrobras, teria sido pior – e no momento em que grandes empresas de energia e de commodities, como Rio Tinto, Glencore, entre outras, têm batido estimativas. Não conseguimos acompanhar o sentimento positivo do exterior, com percepção de risco sobre Brasil que tem afetado a precificação de ativos do País. O que está provocando isso é a reeleição de Bolsonaro: com a popularidade que ele tem hoje, a reeleição não cabe no fiscal. Tão simples quanto isso, o que se reflete em prêmios de risco em todo tipo de ativo brasileiro", diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, chamando atenção também para o câmbio.

Assim, mesmo que o mercado tenha mostrado a princípio alguma satisfação com o comunicado do Copom – ainda que em parte se pense que o BC, atrás da curva, corre agora contra o tempo -, o dia foi de depreciação do real, mesmo ante a estabilidade do DXY, índice que contrapõe a moeda americana a referências como euro, iene e libra. Aqui, o dólar à vista fechou em alta de 0,57%, a R$ 5,2156, tendo chegado na máxima do dia aos R$ 5,2261, saindo de mínima, pela manhã, a R$ 5,1113.

"Conforme amplamente esperado, o aumento da Selic ficou em 1 ponto porcentual, e o comunicado mais duro também se confirmou, com indicação sobre elevação do patamar de juros acima do nível considerado neutro, para ancorar as expectativas inflacionárias. Até o fim do ano, esperamos Selic a 7,5%", diz Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office.

"O Copom está relativamente atrasado – ou seja, atrás da curva – para manter a inflação sob controle e, por isso, precisa realizar uma normalização mais acelerada da Selic, o que já começou após a última reunião e deve se estender, nas próximas decisões, fazendo com que a taxa de juros suba para um patamar próximo de 8%", diz Paloma Brum, economista e analista da Toro Investimentos.

Passado o Copom, a situação fiscal permanece no foco do mercado, e o parecer protocolado nesta quinta pelo senador Fernando Bezerra para novo Refis não contribuiu para melhorar o humor do investidor, resultando na virada no câmbio e em ajuste nos juros, que foram às máximas do dia com a divulgação da proposta, trazendo o Ibovespa para terreno negativo. Na semana e no mês, o índice da B3 recua agora 0,14%, colocando os ganhos do ano a 2,20%.

Mesmo com os sinais de Selic mais encorpada ao longo deste segundo semestre, as ações de bancos, em meio a uma temporada em geral favorável de resultados trimestrais, estiveram entre as perdedoras do dia, com destaque para Bradesco ON (-1,68%) e BB ON (-1,78%). Vale ON (-3,06%) e as ações de siderurgia (CSN ON -3,96%) reagiram à queda pronunciada, de 6,61%, no minério de ferro em Qingdao, a US$ 171,55 por tonelada, pressionado pelos sinais de que a China deve ampliar restrições sobre a produção de aço, em um quadro de piora da demanda.

Assim, Bradespar (-5,11%), que tem participação no capital da Vale, segurou a ponta negativa do Ibovespa, à frente de Braskem (-4,17%) e CSN (-3,96%). No lado oposto, além de Petrobras ON (+9,63%) e PN (+7,88%), destaque também nesta quinta-feira para Magazine Luiza (+2,51%) e Totvs (+1,81%).

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