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Agentes propuseram acordo milionário com Del Nero sobre seleção

Um dos maiores agentes no mercado internacional de jogadores de futebol propôs um acordo com a CBF para também se envolver nos amistosos da seleção brasileira. Assim que José Maria Marin assumiu a CBF em 2012, o Grupo Figers entrou em contato com o então vice-presidente Marco Polo Del Nero para tentar intermediar um acordo com a empresa Kentaro.

Pela conversa, o acerto ainda seria feito por meio de uma empresa no exterior, a Plausus, sediada em Londres. Os agentes ficariam com US$ 132 milhões (R$ 414 milhões) por permitir mais de cem jogos da seleção entre 2012 e 2022.

O contrato apenas não prosperou diante de uma negativa de Ricardo Teixeira, que à distância ainda influenciava nas decisões da CBF.

De acordo com contratos e emails obtidos pelo Estado de S. Paulo, a Kentaro fez uma ofensiva em 2012 para ampliar seu contrato com a CBF, que vencia naquele ano. Para negociar, quem entrou no processo foi Juan Figer e seus filhos André e Marcel.

Se o grupo tem realizado amistosos, é no mercado de jogadores que seus executivos fizeram fama. Em 45 anos de percurso, o grupo foi responsável por mais de mil transferências de jogadores. Em seu site, a empresa também aponta que “gere a carreira dos mais renomados jogadores de futebol do mundo, com atuação abrangente em todas as áreas de gerenciamento de carreira necessárias a uma completa e eficaz assessoria ao futebolista”.

O primeiro contato foi feito por Marcel com Del Nero em 2012. Depois de uma série de discussões, a Kentaro, o Grupo Figer, Marin e Del Nero fixaram um encontro em Londres. No dia 25 de abril de 2012, no hotel Claridge. No início de maio, Del Nero e Marcel voltariam a se reunir em encontro na sede da Federação Paulista de Futebol.

O mesmo Marcel, no dia seguinte, visitaria José Maria Marin em seu apartamento na Rua Padre João Manuel, em São Paulo, para o convencer a derrubar o acordo de Teixeira que previa dar aos árabes da ISE um contrato até 2022. Já perto da meia-noite, o empresário flagraria Marin enquanto cochilava e enviaria a foto do dirigente por email ao seu irmão André.

No dia 21 de maio, o advogado do Grupo Figer, Alexandre Verri, elaborou a minuta do contrato entre Figer e Kentaro, prevendo as condições para a intermediação na renovação do contrato com a CBF. Para figurar como agente no contrato, o Grupo Figer optou por indicar a Plausus UK LTD, com sede em Londres.

Pelo contrato, o agente deveria “apoiar a Kentaro na aquisição dos direitos da CBF”. Além disso, o acordo previa que o agente deveria garantir à Kentaro “todas as formas de assistência necessária para a exploração comercial e maketing dos direitos da Kentaro durante o contrato”.

A Plausus, pelo acordo, poderia receber ofertas relacionadas com a CBF e ainda tinha o dever de “informar à Kentaro de forma regular sobre qualquer desenvolvimento no Brasil em relação especial à CBF e seus direitos”.

Quanto ao valor que receberiam, o contrato deixa claro que a Plausus teria uma ampla participação em cada jogo. Apenas pela assinatura do contrato com a CBF, o pagamento seria de US$ 2 milhões (R$ 6,28 milhões) para os Figers.

“Comissões” de US$ 1 milhão (R$ 3,14 milhões) iriam para os agentes nos dez primeiros jogos da seleção. O valor seria incrementado de forma gradual até chegar a US$ 1,4 milhão (R$ 4,40 milhões) a partir de 2018.

A mesma Plausus aparece no balanço financeiro do Benfica em 2013 na condição de credora. Além disso, é dona de uma empresa de TV a cabo internacional no Uruguai.

Dois dias depois, André e Marcel Figer teriam viajado para Londres e, dali, usaram um jato privado da Kentaro para ir até Budapeste, no Hotel Four Seasons onde ocorria uma reunião da Uefa e onde Marin e Del Nero eram convidados. A meta era fechar os últimos detalhes e impedir a contraofensiva de Teixeira.

Cinco dias depois, uma versão final do contrato foi acatada por email tanto pela Plausus, por seu representante legal Santiago Baraibar, como pela Kentaro, através de seu CEO Philllip Grothe. Entre os itens do acordo estava a comissão de US$ 132 milhões que a Kentaro pagaria para o Grupo Figer.

Mas a renovação pretendida pela Kentaro não acabou vingando conforme o esperado. No dia 16 de agosto de 2012, um acordo da CBF foi anunciado com a empresa Pitch International, depois de uma intermediação de Teixeira com os sauditas da ISE.

RESPOSTA – Em um email à reportagem, o Grupo Figer indicou apenas que “tem quase meio século de história e experiência no gerenciamento da carreira de jogadores de futebol, sendo essa sua atividade empresarial principal”.

Sobre o envolvimento da Plausus para intermediar o negócio, os empresários se limitaram a dizer que, “acerca da empresa mencionada, confirmamos e afirmamos, como pode-se constatar em visita ao nosso sítio na internet, que a mesma não faz e nunca fez parte do Grupo Figer”.

A reportagem pediu um novo esclarecimento sobre o motivo pelo qual uma empresa em Londres foi usada na negociação. Mas o grupo não deu uma resposta e apenas indicou que a informação faz parte de um processo trabalhista em andamento na 24ª Vara de São Paulo. “Nesse sentido, informamos que as ilações do reclamante na referida ação serão rebatidas no foro próprio, em defesa a ser protocolizada nos autos do processo”.

Há duas semanas, a empresa emitiu nota sobre outra reportagem do Estado de S. Paulo que revelava emails internos do grupo. A empresa indicou que “estranha e condena o uso, despropositado, de emails do Grupo Figer e da Kentaro, com o claro objetivo de, tendenciosamente, motivar ilações descabidas sobre nossas atividades empresariais”.

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