Internacional

Agressão a jornalistas eleva tensão na Nicarágua e oposição convoca greve

A polícia da Nicarágua reprimiu uma manifestação de jornalistas que protestavam contra invasão de redações de veículos críticos ao presidente Daniel Ortega, em um recrudescimento da tensão política no país, que, entre abril e junho, viu protestos em massa serem reprimidos com violência. A oposição convocou para quinta-feira uma greve geral no país e entidades de direitos humanos criticaram Ortega.

“Convocamos todos os setores empresariais, comerciais e a cidadania em geral a cruzar os braços no dia 20 para exigir a queda do regime”, disse a Unidade Nacional Azul e Branca (Unab), em nota. A coalizão foi formada em outubro por movimentos estudantis, partidos políticos, empresários e movimentos sociais críticos a Ortega, ex-líder da Revolução Sandinista, no poder desde 2007.

A tensão no país voltou a aumentar na quinta-feira, quando a polícia invadiu e confiscou as sedes das revistas Confidencial e Niú, dirigidas pelo jornalista Carlos Fernando Chamorro com base em uma decisão tomada pelo Parlamento que vinculou esses veículos à ONG Cinco, que teve o registro jurídico anulado.

Na Nicarágua, assim como na Venezuela, o Legislativo e o Judiciário são controlados por partidários do governo. Chamorro é filho da ex-presidente Violeta Chamorro (1990-1997), uma histórica opositora dos sandinistas. Ele foi diretor da ONG, mas nega que seus negócios jornalísticos tenham vínculo com ela.

No total, nove ONGs que desenvolvem um trabalho crítico ao governo de Ortega tiveram o registro jurídico para atuar na Nicarágua cassados pelos parlamentares. Segundo os deputados governistas, essas ONGs participaram de “atos terroristas, crimes de ódio e tentativas de golpe frustradas” contra Ortega.

Agressões

No sábado, Chamorro, junto com outros jornalistas que trabalham no grupo de comunicação, organizaram uma pequena manifestação diante da sede da polícia nicaraguense para denunciar o confisco do prédio. Guardas da tropa de choque deixaram o prédio para reprimir o ato e ao menos sete jornalistas foram agredidos aos gritos de “golpistas”.

“Três policiais me bateram”, disse o jornalista Néstor Arce, da revista Confidencial. “Me chutaram nas pernas e me derrubaram no chão.”

A Associação de Imprensa da Nicarágua criticou o governo. “As ações do regime de Daniel Ortega confirmam o que temos denunciado desde que ele voltou ao poder: ele atropela as liberdades individuais e os direitos garantidos na Constituição”, disse a entidade em nota.

A Human Rights Watch também condenou a invasão das redações dos veículos de Chamorro. “Ortega tem deixado claro sua intenção de governar com o terror e a intimidação”, disse o diretor da entidade para as Américas, José Miguel Vivanco.

A greve convocada para a quinta-feira também tem como objetivo pressionar o governo para libertar os opositores presos nos protestos deste ano. Segundo entidades ligadas à oposição, 674 pessoas estão presas por participação nos protestos. O governo diz que são 273.

As manifestações contra Ortega e a primeira-dama e vice-presidente, Rosario Murillo, começaram depois de o governo tentar implementar uma impopular reforma no sistema de previdência social. Ao menos 325 pessoas morreram na repressão aos protestos.

Auxílio chavista

Com uma economia relativamente pequena e centrada basicamente na plantação de café e no turismo, a Nicarágua dependeu de subsídios externos nos dois períodos de governo sandinista. Se na década de 80, a União Soviética era a principal parceira de Daniel Ortega, a partir de 2007 esse papel coube à Venezuela.

Com a crise venezuelana, que se agravou a partir de 2014, as remessas chavistas para Manágua começaram a cair vertiginosamente, o que prejudicou as contas públicas, até então cuidadosamente equilibradas.

“Os sandinistas aprenderam no seu primeiro governo como não governar o país. Na volta de Ortega, ele forjou uma aliança com setores privados e investiu em programas sociais e infraestrutura”, diz o professor da escola de negócios Incae de Manágua Arturo Cruz.

Segundo o analista, sem os recursos venezuelanos, Ortega passou a ter dificuldades para manter os programas de seus primeiros anos de mandato. Em paralelo, a demanda da população por bons serviços públicos aumentou. “A resposta a isso foi um estado policial repressivo”, conclui. (Luiz Raatz, com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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