Quase metade – 49% – do desmatamento ilegal em florestas tropicais, entre 2000 e 2012, foi causado por atividades agrícolas, de acordo com um estudo publicado pela organização não-governamental Forest Trends.
Segundo o relatório, o Brasil e a Indonésia respondem por 75% do total de florestas ilegalmente devastadas, em todo o planeta, para dar lugar à agricultura comercial. Mas, enquanto os dois países têm criado mecanismos para tentar combater a agroconversão, o problema se expande sem controle em outras regiões do mundo.
No Brasil, segundo o documento, os principais motores da devastação foram a produção de gado e de soja. A organização estima que pelo menos 90% do desmatamento da Amazônia brasileira com fins agrícolas seja ilegal.
O relatório da organização sediada em Washington, nos Estados Unidos, concluiu ainda que, em todo o mundo, a exportação de commodities agrícolas foi o principal motor da destruição das florestas tropicais no período. A conversão ilegal de florestas rendeu US$ 61 bilhões e causou cerca de 25% do desmatamento tropical.
“No Brasil e na Indonésia, além do consumo doméstico crescente, há uma expansão do porcentual de commodities agrícolas para exportação”, disse Michael Jenkins, presidente da Forest Trends.
Segundo ele, o Brasil exporta 75% de sua soja, sendo o maior mercado a China, que consome 48% desse total. O segundo maior mercado são os Estados Unidos, que compram 31% da soja exportada pelo Brasil. Do total da soja brasileira exportada, mais de 40% tem relação com o desmatamento ilegal, de acordo com o relatório.
O Brasil consome internamente a maior parte da produção de carne, segundo o relatório, exportando apenas um quinto da produção. “Do total de carne exportada pelo Brasil, cerca de 65% tem ligação com o desmatamento ilegal”, disse Jenkins.
A Indonésia exporta cerca de 75% de sua produção de óleo de palma e madeira. Em todo o mundo, os países onde há florestas tropicais exportam 70% da soja produzida, 30% da carne e praticamente todo o óleo de palma e madeira.
“Outro impacto devastador da conversão ilegal de florestas tropicais em áreas agrícolas é que ela produziu 1,47 gigatoneladas de carbono por ano nesse período – o equivalente a 25% das emissões anuais provocadas por combustíveis fósseis nos Estados Unidos”, disse Jenkins.
Governança. De acordo com Jenkins, já se sabia que as atividades agropecuárias tinham grande influência no desmatamento das florestas tropicais, mas pela primeira vez um estudo quantificou esses impactos em escala global. “Ficamos surpresos com a escala da contribuição da agropecuária para o desmatamento ilegal”, afirmou.
Segundo ele, o desmatamento ilegal no Brasil no período estudado aconteceu principalmente pelo fracasso da conservação de uma porcentagem das florestas naturais em plantações de larga escala de soja e pecuária, conforme exigido pela legislação. Jenkins afirmou que a maior parte do desmatamento se deu antes de 2004, quando o governo brasileiro ampliou medidas para redução do desmatamento.
“Hoje, o Brasil já mostra novamente sinais de aumento nessa devastação ilegal. Mas ainda assim a legislação e as medidas tomadas pelo país para diminuir a devastação podem ser um exemplo para outros países”, disse Jenkins. “O Brasil, apesar das dificuldades, conquistou uma governança que não existe em vários outros países com florestas tropicais.”
No período em que o Brasil diminuiu seu desmatamento ilegal, segundo Jenkins, o problema começou a aumentar consideravelmente em outras áreas, como o sudeste asiático, a África e a América do Sul.
“Os piores casos são os do Camboja, que teve um crescimento agrícola sem precedentes, da Tanzânia, com a produção intensa de jatrhopha – uma planta usada para fabricar biocombustíveis – e da Bolívia, com uma intensa produção de soja para exportação”, disse.