Num estado democrático é sempre a opinião pública que move os políticos. Desta realidade decorre uma constatação óbvia sobre a dimensão que adquiriu a crise no fornecimento de um serviço público tão essencial à população, como a água, em São Paulo. Ela resultou, sobretudo, de uma falta de atenção concentrada e duradoura no modo como vem ocorrendo o abastecimento de água em todo o país.
Há vários anos, são conhecidas as deficiências deste abastecimento. Se elas tivessem ocupado espaço permanente nas páginas dos jornais e nas programações de emissoras de rádios e televisão, os brasileiros teriam passado a exigir de seus políticos medidas para evitar esta crise. Que, embora tenha várias causas – e não resulte somente da falta de chuvas – sequer é necessário listá-las todas para dimensionar o peso da falta de atenção da opinião pública na situação surgida em São Paulo. Basta nos atermos a uma destas causas: a inacreditável quantidade de água perdida nos nossos sistemas de distribuição.
Este assunto, tratado sempre esporadicamente pela imprensa – por isto, sem dar chance ao público brasileiro de compreender a importância dele -, reapareceu nos noticiários, por alguns instantes, quando, no ano passado o Sistema Nacional de Informações de Saneamento, do Ministério das Cidades, divulgou um estudo intitulado “Diagnóstico de Serviços de Águas e Esgotos”. Ele se referia ao ano de 2011, quando, já àquela altura, 34 por cento do volume de água disponibilizados pela Sabesp foram perdidos antes de chegar aos consumidores aos quais se destinavam.
No restante do país, as perdas não eram menores, exceto no Distrito Federal, suprido pela Caesb, onde também o desperdício era elevado: 24,8 por cento. Nos demais Estados sempre ultrapassaram os 30 por cento. E no Amapá, servido pela Caesa, chegou a 73,3 por cento.
As origens eram as mesmas: mau estado de conservação das redes de distribuição, alta pressão das tubulações, falhas na detecção de vazamentos, descuido no seu monitoramento.
A situação atual de São Paulo tornou evidente a necessidade de investimentos neste setor para que suas maiores deficiências sejam corrigidas. Com a mobilização da opinião pública – despertada através da inquietação, por fim, espalhada pelos meios de comunicação -, talvez não cheguemos à situação da Holanda, onde a perda de água é de zero por cento. Mas, não tenhamos dúvidas, doravante nossos políticos terão de se comprometer a nos poupar do medo da privação de um produto tão abundante em nosso país.