Foi uma jornada cheia de turbulências e passos em falso, mas aconteceu. Arquitetada há pelo menos três anos, a abertura de capital da empresa de hospedagem Airbnb surpreendeu o mercado: a empresa viu seus papéis terem alta de 112% ao longo do primeiro dia na Nasdaq, encerrando o pregão a US$ 144 – bem acima dos US$ 68 inicialmente cotados pela startup. Com valor de mercado de US$ 100 bilhões, a companhia captou US$ 3,5 bilhões na oferta pública de ações, fazendo o maior IPO do ano nos EUA.
Nem a própria empresa esperava tamanho apetite do mercado, que se digladiou por uma chance de comprar os papéis: foram quatro horas de leilão até que as ações começassem a ser negociadas. "Não sei o que dizer, estou emocionado", disse o CEO Brian Chesky, quando foi informado sobre o possível preço de abertura das ações, durante entrevista à emissora <i>Bloomberg</i>.
Os números ajudam o Airbnb a deixar para trás um ano turbulento: afetada pela pandemia, a empresa viu cancelamentos subirem e teve de fazer um plano de contingência. Além de se preocupar com a saúde de hóspedes e anfitriões, o Airbnb captou empréstimos, demitiu mais de 7,6 mil pessoas e até levantou uma rodada de aportes em um valor abaixo do que possuía antes.
"Tenho só 39 anos, mas sinto que estou com 59 por conta de tantas decisões difíceis", disse Chesky, que criou a empresa em 2008 ao lado dos amigos Nathan Blecharczyk e Joe Gebbia.
Fundada durante a crise, a empresa começou como um negócio de hospedagem improvisada – seu nome significa "colchão de ar e café da manhã". Ao longo da década, ela cresceu a ponto de incomodar gigantes hoteleiras. Avaliado em US$ 100 bilhões, o Airbnb vale mais que marcas tradicionais do setor e serviços de turismo, como Marriott, Hyatt, Booking e Expedia.
<b>Dias de sol</b>
É uma volta por cima, beneficiada pelo apetite dos investidores por ações de tecnologia, liquidez no mercado de capitais e também por sua marca. "O Airbnb é um nome conhecido do investidor comum, o que gera interesse. Tesla, Uber e Zoom também têm esse efeito", diz William Castro-Alves, estrategista-chefe da corretora Avenue.
Para Joelson Sampaio, coordenador do curso de Economia da FGV-SP, a alta das ações mostra confiança na maturidade da empresa ao lidar com a crise e na demanda por locação de casas.
<b>Dias de chuva</b>
Mas diversas nuvens pairam sobre o futuro do Airbnb. A primeira delas é a pandemia, com a segunda onda de casos nos EUA e na Europa sendo uma incógnita no futuro da empresa. "É difícil imaginar vida normal no Airbnb no 1º semestre de 2021 ou até a vacina estar disseminada", diz Castro-Alves.
A empresa também precisa ainda provar que é lucrativa, algo raro nos últimos trimestres. Além disso, a valorização inflada da companhia fez ressurgir o medo de uma bolha no mercado de tecnologia. "É difícil se sentir confortável e confiante com os níveis de avaliação do mercado", disse Scott Kessler, analista da firma Third Bridge, ao jornal New York Times.
Para o Airbnb, a combinação do estouro de uma bolha e números ruins pode ser explosiva. Por outro lado, há quem prefira olhar menos para as planilhas e mais para o discurso, com a visão de que o Airbnb é uma empresa do futuro, onde as pessoas viverão "em qualquer lugar". "A direção financeira está errada, mas as pessoas estão interessadas no nome", disse James Gellert, da firma Rapid Ratings, ao <i>NYT</i>.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>