O governo federal acompanha de perto o passo a passo da crise grega. Até aqui houve pouco contágio no mercado brasileiro, seja na avaliação de investidores para títulos públicos e privados ou na cotação do real. No governo o entendimento na equipe econômica é que o “aprofundamento” do ajuste fiscal, como defende o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é o melhor caminho: ao melhorar as contas públicas e os indicadores fiscais, o Brasil estará melhor posicionado para enfrentar uma piora do cenário mundial.
Uma estratégia de defesa somente ficará clara, no entanto, quando a presidente Dilma Rousseff e seus ministros da área econômica voltarem ao Brasil. Mas a direção atual, de manter e reforçar o ajuste fiscal, é predominante hoje na equipe econômica e no Palácio do Planalto, segundo apurou o jornal “O Estado de S. Paulo”.
Auxiliares presidenciais e técnicos do governo veem os últimos atritos da crise entre a Grécia e a União Europeia com um possível potencial de repetição da turbulência entre os dois que derrubou o crescimento econômico mundial e brasileiro entre o fim de 2011 e ao longo de 2012.
Profusão de pacotes
A estratégia de aprofundar o ajuste fiscal, no entanto, é completamente distinta daquela que o próprio governo Dilma tomou três anos atrás. Naquela oportunidade, o governo reagiu com uma profusão de pacotes com medidas de estímulos, como reduções dos juros, incentivos fiscais diversos e aumento dos gastos públicos. Tanto a taxa básica de juros, a Selic, quanto a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), oferecida nos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atingiram suas mínimas histórias.
Do lado fiscal, o governo criou e expandiu a 56 setores a desoneração da folha de pagamentos, além de reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do PIS/Cofins. Os gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com o Minha Casa, Minha Vida também aumentaram.
Apesar de todos os esforços, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) permaneceu baixo e a inflação sempre próxima a 6%. A equipe antiga, liderada pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega sempre defendeu que o ativismo do governo evitou um cenário ainda pior.
Hoje, a visão no Ministério da Fazenda é oposta. O entendimento é que o forte aumento da dívida pública bruta em 2014 deve ser estancado para não criar nos mercados internacionais uma percepção muito negativa com o Brasil, o que facilitaria um contágio da crise na União Europeia. Segundo um técnico gabaritado da Fazenda, a missão brasileira deve ser a de mostrar aos investidores globais e mesmo nacionais que, apesar de ser uma economia emergente com dívida em alta, o Brasil está em um quadro “radicalmente” distinto daquele de países mais frágeis na Europa.