A Braskem e a francesa Veolia, que concebe e implementa soluções para a gestão de água, resíduos e energia, fecharam um acordo de R$ 400 milhões de investimento para desenvolver um projeto térmico de produção de vapor a partir de biomassa de eucalipto em Alagoas. Quando estiver pronto, em 2023, a iniciativa vai gerar 900 mil toneladas anuais de vapor para a unidade em Marechal Deodoro (AL), propiciando uma redução da ordem de 50% nas emissões de gases de efeito estufa da planta, ou um corte de aproximadamente 150 mil toneladas de CO2 por ano.
O projeto está em linha com o compromisso da Braskem de reduzir em 15% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono em 2050. "Essa iniciativa é transformacional para a Braskem; vamos, em parceria com a Veolia, remodelar o sistema energético de uma das nossas plantas em Alagoas, a planta de PVC, e com isso vamos passar a ter um volume importante de energia renovável no site", afirmou o diretor de Energia da Braskem, Gustavo Checcucci ao <i>Broadcast Energia</i>, do sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Ele salientou que se trata do primeiro projeto de grande porte da Braskem para produção térmica com uso de biomassa. De acordo com ele, embora o Brasil tenha um diferencial competitivo com a vasta oferta de fonte elétrica renovável, desenvolver um projeto de fonte térmica renovável representa um desafio maior. "É difícil achar fontes energéticas térmicas renováveis, por isso a grande dimensão desse projeto, que vai fornecer energia térmica renovável na forma de vapor para atender as operações pelos próximos em 20 anos (…). É um projeto que vai transformar as operações da Braskem em Alagoas, de modo que seja uma operação de longo prazo, estruturante, sustentável e renovável", disse.
Checcucci lembrou que a Braskem, adicionalmente, possui parcerias para desenvolvimento de um portfólio de energia elétrica renovável, a partir de fontes como eólica e solar, tendo atualmente mais de 25% de seu consumo de energia elétrica renovável, um porcentual que deve crescer ainda mais num futuro próximo. "A avaliação da nossa matriz energética tem de ser vista de maneira consolidada, como é uma matriz termoelétrica é preciso olhar as diversas iniciativas", explicou.
<b>Projeto</b>
Conforme acertado, a Veolia será a responsável pelo gerenciamento da maior parte do projeto, incluindo o processo de gestão agroflorestal de mais de 5,5 mil hectares de eucalipto, a concepção do projeto de engenharia e a construção das usinas de processamento de biomassa e de produção de vapor, além da operação e manutenção de toda a instalação durante os 20 anos do contrato. A Braskem realizará investimentos internos para adequar o complexo de Marechal Deodoro ao novo arranjo termoelétrico.
Responsável por cerca de 90% do investimento, a Veolia considera o projeto importante para a operação brasileira do grupo. "É uma relação que estamos há três anos trabalhando e desenvolvendo com a Braskem", comentou o CEO da Veolia Brasil, Pedro Prádanos. Ele salientou que o grupo francês vê o Brasil como um mercado estratégico, e que a subsidiária vem registrando, há três anos, crescimentos de dois dígitos, principalmente no segmento industrial. Hoje a empresa tem cerca de 25 clientes com plantas de tratamento de energia, água ou resíduos. No segmento de biomassa, porém, este é apenas o segundo projeto no Brasil – o outro é movido à casca de arroz, no Sul do País. No mundo, no entanto, são mais de 120 projetos do tipo, salientou.
Prádanos salientou que a iniciativa abrange processos alinhados à transformação digital e à indústria 4.0, uma vez que, quando estiver em operação, o projeto será integrado à plataforma Hubgrade, da Veolia, que gerencia e analisa os dados de operação, visando a otimização energética da instalação.
Além dos benefícios ambientais, o executivo da Veolia também destacou aspectos sociais do projeto, pela geração de empregos, com a criação de 400 postos de trabalho diretos durante a fase de construção, nos próximos dois anos, e 100 empregos na operação, incluindo a planta de produção de vapor, a gestão da biomassa e o manejo agroflorestal de eucalipto.
O diretor industrial da Braskem em Alagoas, Helcio Colodete, explicou que o projeto foi desenvolvido para aproveitar um diferencial competitivo do Estado na produção de biomassa, com solo e clima propícios para a cultura do eucalipto, além do interesse do agronegócio local no desenvolvimento da atividade. "Isso acaba proporcionando o cultivo de eucalipto que permite maior eficiência no plantio e disponibilidade para a indústria", disse, fazendo referência ao fato de que o projeto exige confiabilidade com o fornecimento de vapor de forma contínua, 24 horas por dia.
Realizado justamente no Estado em que a Braskem enfrenta os desdobramentos de um desastre ambiental, com o afundamento do solo em bairros de Maceió, em 2018, o projeto de biomassa anunciado nesta terça-feira mostra que a companhia possui planos de longo prazo para as operações locais. "Estamos aqui investindo R$ 400 milhões no estado exatamente por entender que as nossas operações lá, de maneira sustentável e de maneira ambientalmente organizada, vão continuar de modo perene", disse Checcucci. Segundo ele, os estudos do projeto foram iniciados antes do acidente e nunca foram interrompidos.
Por ora, as empresas indicaram que ainda estudam potenciais soluções de financiamento para o investimento. Checcucci indicou que a Braskem deverá avaliar a possibilidade de acesso a linhas verdes de financiamento para os desembolsos que deverá fazer dentro do projeto. Já Prádanos citou que os recursos inicialmente devem ser aplicados pelo próprio grupo Veolia. "Num primeiro momento esse projeto deverá ser financiado internamente, através dos financiamentos da Veolia, mas estamos analisando linhas de credito nacionais e internacionais para bancabilizar o projeto", disse.