Alertas de desaquecimento mundial por coronavírus deixam Ibovespa instável

Após tocar pontualmente os 105 mil pontos (105.007,98 pontos), o Ibovespa perdeu força e foi para o campo negativo, em sintonia com a queda dos índices futuros de Nova York. Ainda que a possibilidade de medidas de estímulos esteja presente nos mercados, as incertezas relacionadas ao coronavírus parecem maiores, o que podem agravar ainda mais o quadro de retomada.

Às 10h52, o Ibovespa cedia 0,03%, aos 104.141,17 pontos.

"A Bolsa sofreu muito nos últimos dias, iniciou o pregão tentando rever as perdas, mas as dúvidas com o coronavírus continuam, e é isso que vai dar rumo aos negócios. Devemos ter volatilidade o tempo todo", afirma o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira.

Novos alertas de desaceleração da economia mundial por conta dos avanços da disseminação da epidemia de coronavírus devem conduzir os negócios no início desta semana.

Além de dados fracos de atividade na China e na Europa, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não descarta a possibilidade de Produto Interno Bruto (PIB) mundial negativo no primeiro trimestre deste ano e alta de apenas 1,5% em 2020, caso a epidemia se agrave. Por ora, cortou a projeção de 2,9% para 2,4% do PIB global deste ano.

Neste cenário, crescem as expectativas de medidas de estímulos pelos bancos centrais mundiais, como a redução do juro básico. Os holofotes seguem principalmente no Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), cuja reunião de política monetária ocorrerá nos 17 e 18 de março, e as estimativas já indicam diminuição de 0,50 ponto porcentual. O mercado ainda espera a adoção de novos estímulos monetários pelo banco central chinês, epicentro do vírus. Também para o Brasil, alguns, como a OCDE, dizem que há espaço para corte de juros.

A própria OCDE reconhece que os governos precisam agir com rapidez e força para superar os efeitos do coronavírus. No entanto, para Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença DTVM, medidas nesse sentido são paliativas, não resolvendo por completo as questões que estão relacionadas à produção. "Se o povo está doente, quem irá produzir, consumir? O problema não é liquidez, mas sim dúvidas com produção e com demanda", explica.

"Há pouco o que fazer por meio dos juros se as economias mundiais deslocam seus esforços da produção para a prevenção ao espalhamento do vírus. Se os países continuam adotando medidas como fechamento de fábricas, férias escolares e cancelamentos de eventos os juros são ferramenta inócua", avalia o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.

O economista também pondera que hoje não há orçamento monetário nos bancos centrais para coordenar algo do tipo, pois as taxas de juros já estão baixas e o balanço da maioria dos BCs já estão inflados. "Há algum tempo o próprio Fed voltou a expandir seu balanço injetando liquidez pela porta dos fundos do sistema e por aqui nosso Banco central já diminuiu os compulsórios", descreve em nota.

A despeito das altas das commodities no exterior, as bolsas europeias e os índices futuros de Nova York passaram para o campo negativo após subirem mais cedo, indicando que o sobe-e-desce nos mercados deve continuar. Na Itália, o PMI industrial caiu para 48,7, marcando o 17º mês seguido de contração. Já na China, o PMI industrial oficial saiu de 50,0 em janeiro para 35,7 em fevereiro.

Para Perfeito, volatilidade deve ser o tom nos próximos dias, enquanto o mercado busca dar sentido monetário aos ruídos do vírus teremos oscilações violentas. "O problema da volatilidade é que não sobe e cai simplesmente. Quanto maior a incerteza, maior a chance dos investidores quererem ficar líquidos e isso pode criar uma tendência persistente de queda das bolsas", estima.

Monteiro também acrescenta que o noticiário político segue no radar, em meio ao impasse entre Congresso e Planalto, o que pode prejudicar o andamento das reformas, considerado essencial para a retomada econômica.

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