Foi durante a edição do Festival de Curitiba de 2006 que um olheiro da TV Globo se deparou com o talento de Alexandre Nero. A temporada de Os Leões, peça dirigida por Nadja Naira com a companhia A Armadilha, quase não teve público. “Foi um sucesso!”, sentencia o ator. A princípio, a frase de Nero parece ignorar o que um artista comum pensa sobre o que é um trabalho bem-sucedido. Em 2008, ele foi substituído nesse espetáculo para estrear como Vanderlei na novela A Favorita. “Quando cheguei à TV, recebi muitos parabéns de amigos. Eu entendo o que as pessoas queriam dizer. Era a visão delas de que eu alcancei fama e dinheiro”, conta. “Mas, para mim, sucesso nunca esteve relacionado com nada disso.”
Nesta sexta, 12, Nero estreia em O Grande Sucesso e leva para o palco todas essas indagações. Com trilha sonora original, o desejo do também músico era o de experimentar um espetáculo que fosse a sua cara. “Hoje sou mais conhecido como ator, mas minha carreira na música vem junto.” Em 1995, ele lançou Camaleão, seu primeiro disco solo. “Ainda mais agora que os musicais estão tão na moda”, ironiza.” Nero afirma que até recebeu alguns convites, mas o formato tradicional de musicais importados não lhe agrada nem um pouco. “Quero, antes, provar que é possível fazer algo que não seja quadrado e careta.”
O espaço escolhido como pano de fundo da história é o segundo lugar mais frequentado por atores: a coxia. “Lá é uma espécie de limbo ou purgatório”, explica o diretor e dramaturgo Diego Fortes, que também assinou o texto de Leões. “A coxia nunca terá a mesma ilusão do palco e jamais será real como a vida é.”
E é nesse intervalo existencial que o elenco de uma determinada peça aguarda o momento de entrada em um espetáculo que não se sabe o nome e que já está em sua terceira hora. “Todos eles estão cansados”, conta Fortes. E é de tanta fadiga com esse clima que o personagem de Nero começa a disparar suas ironias. “O que um diretor precisa dizer em três horas que não pode dizer em duas horas e meia?” Outra famosa frase entre artistas atesta o estado precário da profissão. “Eu só aceitei porque não sabia o que era.” Fortes afirma que boa parte do texto é a reunião de frases ditas por artistas e pelo próprio elenco durante os ensaios. “Faz parte do cotidiano, dos desafios dessa profissão e de tantas outras carreiras não só criativas.”
Nos momentos de ócio, o grupo de artistas permanece na coxia entre uma cena e outra. As questões existenciais guiam esses pobres atores para números musicais inspirados em episódios ocorridos ali mesmo, como o romance mal-resolvido entre o personagem de Nero e uma atriz do elenco. Nesse solo, o ator canta, e ironiza, mais uma vez, a mania entediante de artistas que levam para o palco suas desilusões amorosas. A criação dessas cenas segue a própria ideia de sucesso e fracasso, trazida pelo ator. “Durante o improviso, criamos situações ridículas, mas, se elas ficavam muito ridículas, os outros me davam um toque. Isso é tentar, fracassar e tentar novamente. Não se pode ter medo. Se eu não dou um passo à frente, nada acontece.”
Para Nero, essa ideia de ser bem-sucedido não significa o contrário de fracassar. “Sucesso é um público cheio, uma temporada cheia. Será? Dependendo da peça… Nem tudo é só dinheiro, ibope. Isso está mais ligado à economia. Tem outras coisas que me interessam,” avalia. Por outro lado, o ator não deixa de apreciar o momento em que vive. Grandes personagens na televisão e o prestígio trazido com eles. “Não estou negando nem quero devolver o dinheiro e a fama, mas a gente não trabalha para ficar famoso nem para ganhar dinheiro. A gente trabalha.” E, nesse musical, Nero não só vai trabalhar como dançar, cantar e vestir mil fantasias, enquanto aguarda o grande momento de pisar no palco daquele longo e estranho espetáculo. “As pessoas podem até não gostar, mas elas não vão poder negar que é original.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.