Deputados da base aliada que fazem parte da comissão especial que analisa o projeto de privatização da Eletrobras admitem que não há mobilização do governo em favor da tramitação rápida do projeto. Incomodado com a letargia do Palácio do Planalto, o relator José Carlos Aleluia (DEM-BA) já teria até ameaçado abandonar o posto em protesto ao desinteresse do Executivo, segundo apurou a reportagem. Ele nega.
Os parlamentares culpam as articulações regionais para corrida eleitoral, o período de vigência da janela que permitiu a troca de partidos ao longo do mês de março e até mesmo a falta de empenho do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Eles reclamam que a pré-candidatura de Maia à Presidência da República teria tirado o foco do comando da Casa.
O presidente da comissão, deputado Hugo Motta (MDB-PB), defende Maia. Para ele, o pouco que o projeto de lei andou na Casa ocorreu por interferência do presidente da Câmara. “Não houve participação do governo nesse movimento. O Palácio do Planalto continua inerte”, disse.
Maia disse que, se a obstrução da oposição for mantida, pode levar o projeto direto para votação no plenário. Ele acusou o governo de não atuar em favor da proposta. “Infelizmente, só o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS) aparece para defender o governo na comissão.”
O presidente da Câmara disse ainda que a nomeação de Moreira Franco para o Ministério de Minas e Energia poderia atrapalhar ainda mais a tramitação da proposta na Casa, devido à falta de articulação política do ministro. Ao Estadão/Broadcast, Moreira Franco disse contar com a ajuda de Maia na Casa. “Tenho certeza de que Maia vai ajudar, com o pouco trânsito que eu tenho na Câmara, para que possamos aprovar esse projeto. Falo isso com sinceridade.”
Nesta semana, a comissão conseguiu aprovar os primeiros requerimentos depois de um mês em funcionamento, com o convite ao presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Jr. Ele deve comparecer à comissão hoje. Aleluia pretende apresentar o relatório do projeto de lei no início de maio. “O projeto estava órfão, mas agora o governo sinaliza o desejo de caminhar”, disse. Mas, segundo ele, a comissão ainda tem “três a favor, dois contra e a maioria ausente”, o que impede o debate.
Eleição
Um ex-ministro de Temer disse que as condições políticas do governo são “fracas” para aprovar o projeto em ano eleitoral. “A Câmara não quer votar coisa muito polêmica”, disse o ex-auxiliar do presidente, sob a condição de anonimato.
Enquanto a base não se entende, a oposição, mesmo em minoria, atua com destreza na comissão. O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) lidera os deputados contrários à privatização da Eletrobras. Para ele, o setor de energia é estratégico, e a desestatização da companhia vai conceder ativos e águas para empresas estrangeiras, principalmente chinesas. “Nos leilões, quando há participação de estatais, a tarifa cai. Estatais bem gerenciadas fazem investimentos não apenas para ter lucro, mas para reduzir desigualdades regionais. Empresas privatizadas visam apenas o lucro”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.