Economia

Alimentos perdem força no IPCA, mas analistas vêm piora em riscos para inflação

A inflação de alimentos, que era um dos principais focos dos investidores nas últimas semanas, veio mais comportada do que o esperado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto e tirou um fator de pressão. Mesmo assim, outros itens subiram mais do que o esperado, o que fez o resultado geral vir exatamente em linha com a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast. Nesse cenário, boa parte dos analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo EStado, aponta que o balanço de riscos para quem aposta em um corte de juros já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em outubro, parece ter ficado um pouco pior. Alguns, no entanto, avaliam que as pressões para cima registradas no mês passado podem ter sido pontuais.

O IPCA fechou agosto com alta de 0,44%, ante uma variação de 0,52% em julho, marcando a maior inflação para o mês desde 2007. A taxa acumulada no ano foi de 5,42%. Em 12 meses, o resultado ficou em 8,97% até agosto, ante uma taxa de 8,74% até julho. Nos cálculos da Votorantim Corretora, a média dos núcleos subiu para 0,50%, de 0,46% no mês anterior, enquanto o índice de difusão aumentou para 63,3%, de 59,5%.

O economista da Rio Gestão de Recursos Bernard Gonin aponta que a inflação de serviços está desacelerando em ritmo muito fraco. “Serviços, que dependem da atividade, na verdade aceleraram, e isso vai contra o que o BC espera”, diz, lembrando que a inflação de serviços no acumulado de 12 meses avançou em agosto, apesar de a leitura mensal ter desacelerado, na margem.

“O IPCA de agosto, assim como o IPCA-15 de duas semanas atrás, veio próximo ao esperado pelo mercado, mas sua cara não é muito boa. Reiteramos que os preços de alimentos continuam pressionando o índice, ainda que em menor escala do que o observado no mês anterior. Os serviços também não dão trégua”, resume o Banco Fator.

Para a consultoria britânica Capital Economics, o IPCA de agosto torna um corte de juros na próxima reunião do Copom, em outubro, ainda mais improvável. “A ata da última reunião do Copom deixou claro que as autoridades querem, entre outras coisas, ver evidências de que o aumento na inflação de alimentos é temporário. O mercado está atualmente precificando uma chance de corte de 0,25 ponto porcentual em outubro, mas o dado de hoje torna isso improvável”, diz o texto.

“Se o BC fosse tomar sua decisão baseado somente na inflação de agosto, provavelmente voltaria a adicionar em seus documentos que não existe espaço para afrouxar a política monetária”, acrescenta o ex-diretor do BC e sócio da Schwartsman & Associados Alexandre Schwartsman. O analista lembra que, obviamente, o Copom não vai tomar sua decisão baseado somente na inflação de agosto. Entretanto, se o IPCA-15 e o IPCA de setembro não mostrarem desinflação mais forte, será difícil justificar um corte na reunião de outubro. “Nós acreditamos que novembro é o ponto mais provável para o começo do ciclo de afrouxamento”, aponta.

Já o economista do Banco Pine Marco Caruso aponta que a inflação de alimentos desacelerou de 0,80% no IPCA-15 para 0,30% no índice fechado de agosto, e diz que há espaço para recuar mais, uma vez que esse comportamento atual está refletindo a deflação no atacado registrada dois meses antes. “Pelas minhas contas, ainda tem espaço para alimentos perderem mais força no IPCA de setembro”, comenta. Ele estima que a inflação deste mês deve ficar em 0,35% e diz que esse número pode ser revisado para baixo.

O economista da 4E Consultoria Thiago Curado chama atenção em particular para a alimentação domiciliar, com destaque para o recuo no mês passado de 5,6% no feijão carioca, que ainda acumula alta de 136,57% no ano e 160,25% em 12 meses. “A partir de setembro e nos próximos meses abre-se espaço para inflação negativa no grupo alimentação por conta de queda nos preços de alimentação domiciliar”, argumenta, embora concorde que a inflação de serviços desacelera em ritmo fraco.

Leandro Negrão, economista do Bradesco, avalia que a pressão em serviços em agosto foi pontual e não deve se repetir. “Foi algo pontual por causa da Olimpíada. Nem a pressão nos núcleos nem os serviços devem mudar a confiança do BC”, comenta. O banco tem um cenário benigno para a inflação, com “riscos mais baixistas que altistas”, e acredita que até outubro haverá evolução nas negociações da medidas fiscais entre governo e Congresso, contribuindo para o início do ciclo de distensão monetária.

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