A desvalorização do peso argentino transformou o país vizinho em destino vantajoso para turistas brasileiros. Mas o ganho de poder de compra do real não é um caso isolado, já que a combinação de fatores econômicos externos e crises políticas domésticas têm pressionado a cotação de outras moedas latino-americanas ante não apenas o dólar, mas o real – o que ajuda a vida de quem está planejando viajar para determinados destinos da América Latina.
Segundo dados do site Decolar, cidades como Buenos Aires e Bariloche (Argentina), Santiago (Chile), Montevidéu (Uruguai) e Lima (Peru) estão, desde o início do ano, entre os destinos internacionais mais buscados por turistas do Brasil. A escolha coincide com a lista de países cujas moedas se desvalorizaram mais perante o dólar do que o real.
Segundo especialistas ouvidos pelo <b>Estadão</b>, no último ano o real teve melhor desempenho ante o dólar do que os pesos mexicano, chileno e colombiano, por exemplo. Para o economista da XP Francisco Nobre, a alta nos preços das commodities também pressiona as moedas sul-americanas, por causa da dependência dos países aos produtos que são negociados em dólar.
No entanto, se o câmbio das moedas latino-americanas varia bastante, como fazer as contas para saber se vale a pena ir para determinado país? Segundo o educador financeiro do banco C6, Liao Yu Chieh, a resposta é: precisa pesquisar os preços de restaurantes, atrações turísticas e itens de alimentação nos supermercados.
Tudo isso ajuda a entender não só a conversão, mas quanto o real compra em cada destino. "O melhor jeito de aproveitar o momento de desvalorização das moedas é estudando o custo de vida do país e montar um roteiro", diz Chieh.
<b>ÍNDICE BIG MAC.</b> Um indexador econômico que pode facilitar a tarefa é o "índice Big Mac", criado pela revista americana <i>The Economist</i> em 1986. O guia analisa o preço do sanduíche da rede de fast-food em diferentes países em relação ao dólar americano. "Esse índice tem limitações, mas é um jeito fácil de comparar o custo de vida em diferentes países", diz Nobre.
Segundo o levantamento, em dezembro de 2021, o preço médio de um Big Mac no Brasil era de R$ 22,90. Na cotação da época, o valor do lanche nos EUA seria de R$ 30,85 para um brasileiro, com uma redução no poder de compra de 25,77%. Pela variação atual do câmbio, essa defasagem sobe para 27,95%, com o sanduíche a R$ 31,78.
O <b>Estadão</b> levou o índice Big Mac em conta para analisar o poder de compra do real em 11 países (os EUA e dez latino-americanos). De acordo com o índice, o real tem poder de compra superior ao praticado em nove desses destinos.
Na cotação atual, o desempenho mais forte do dinheiro brasileiro se dá perante o peso colombiano – 1 peso colombiano equivale a R$ 0,0012. No caso da Argentina, principal destino internacional dos brasileiros, o peso se desvalorizou 22% ante o real e 23% perante o dólar americano em um ano.
Dos países da América Latina analisados pela <i>The Economist</i>, o real só tem poder de compra inferior ao do peso do Uruguai. Atualmente, o sanduíche tradicional do McDonalds sairia a R$ 30,82 no país, ou 25,7% a mais do que por aqui.
<b>PLANEJAMENTO.</b> Se a diferença cambial traz ganhos ao poder aquisitivo do real, a falta de planejamento na hora da conversão pode minar essa diferença e até deixar o brasileiro no prejuízo. O especialista do C6 lembra que em viagens internacionais é importante estar atento às taxas de conversão de moeda e de uso do cartão de crédito. "No Brasil, o custo para moedas estrangeiras é alto. Então, o viajante precisa estar atento à sua necessidade", afirma.
Outra dica do educador financeiro é a aquisição de dólares, em vez de pesos (de qualquer país). "Chegando ao destino você converte para o dinheiro local, mas vários países aceitam pagamentos feitos com moeda americana", afirma.
<b>PREPARE-SE</b>
<b>Atenção à conversão</b>
O câmbio das moedas latino-americanas varia muito, e é necessário fazer bem as contas para saber qual é o país mais vantajoso em poder de compra.
<b>Dólares</b>
Uma dica é o turista se preparar comprando dólares aos poucos, em vez de pesos (de qualquer país). De acordo com o especialista Liao Yu Chieh, do banco C6, além da conversão vantajosa, parte dos estabelecimentos costuma aceitar a moeda dos EUA.
<b>Moeda fraca na mão</b>
Como as moedas de vários países da América Latina estão se desvalorizando, a compra da moeda local apenas no destino evita que o consumidor tenha prejuízo ao ficar com sobras de moeda fraca nas mãos; já o dólar sempre pode ser usado em uma próxima viagem.
<b>Susto</b>
Segundo especialistas, uma armadilha pode ser a falta de atenção às taxas de conversão de moeda estrangeira. É preciso atenção ao utilizar o cartão de crédito, que automaticamente embute uma taxa de 6%, além do IOF.
<b>Além do Big Mac</b>
Outra dica importante é entender não só a taxa de conversão da moeda, mas quanto o real vale na prática no destino escolhido. Especialistas em finanças pessoais sugerem que o turista pesquise temas como preços de restaurantes, de atrações turísticas e da comida nos supermercados.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>