Quem acompanha a trajetória e as afirmações de Sebastião Almeida (PT), prefeito de Guarulhos há quase sete anos, pode perceber que manter a palavra não é um de seus fortes. Até afirmações, que deveriam se basear em dados concretos, desaparecem com o vento. Desde que assumiu a Prefeitura em 2009, ele não cansa de divulgar números diferentes sobre o tratamento de esgotos na cidade. Porém, nenhum deles consegue se sustentar.
Nesta sexta-feira, uma reportagem publicada pelo jornal Folha Metropolitana apontou que a cidade só trata 1,38% do esgoto doméstico, segundo informações prestadas pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a partir do “Relatório de Águas Superficiais” de 2014, com dados do próprio Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). Na semana passada, servidores do Saae de Guarulhos, responsável pelas estações de tratamento, garantiram em audiência pública na Câmara Municipal que Guarulhos trata zero de seu esgoto.
Mas Almeida segue sua linha de contestar informações, sem apresentar contrapartidas. Inquirido durante entrevista ao programa Radar de Notícias, nesta semana, limitou-se a dizer que Guarulhos trata entre 1% e 50%. Porém, durante inauguração da ETE Varzea do Palácio, em 2013, garantiu que a cidade já iria tratar 50% do esgoto. Agora, tenta sair pela tangente, dizendo que “Guarulhos tem a capacidade para tratar metade do esgoto. Isso não significa que trata”. Porém, as propagandas e materiais oficiais da Prefeitura, comandadas por ele, cansaram de informar a população que a cidade trata 50%. Mas não trata.
Nesta sexta-feira, 25, durante inauguração da nova pista margina da rodovia Presidente Dutra, ele preferiu contestar a publicação da Folha Metropolitana. Fugindo a sua responsabilidade, disse que cabe à companhia apresentar os critérios adotados para estabelecer este índice.
“Essa informação quem tem que dar é eles (Cetesb), quem tem que dizer quais foram os parâmetros pra isso. O que precisa esclarecer é que tratamento de esgoto é um processo, sistema que você vai construindo. Aliás, se fosse tão simples assim, a Sabesp que já tem estação no Parque São Miguel, Parque Novo Mundo, Barueri e tantos outros lugares e com o tempo que tem as estações era possível que nenhum esgoto a ser tratado em São Paulo”, defendeu-se atacando o prefeito de Guarulhos.
Almeida até reconheceu o compromisso de tratar 50% do esgoto coletado, mas – mudando radicalmente seus discursos anteriores – diz que seus esforços estão voltados para que possa ter atingido a marca de 25% ao final de seu mandato. Ele ressaltou que o processo para o tratamento demanda tempo e precisa obedecer determinados processos.
“A nossa meta com a construção de três estações de tratamento de esgoto, Guarulhos passa a ter capacidade de tratar 50% do seu esgoto. Evidentemente até o final do meu mandato eu espero que possamos chegar na metade desse volume. Ou seja, fazer com que 25% do esgoto da cidade chegue as estações de tratamento”, projetou Almeida.
Para explicar o seu funcionamento, o prefeito usou o exemplo da construção das linhas de metrô e aponta ser essencial a construção neste processo inicial das estações de tratamento. No entanto, o mesmo não apontou qualquer prazo para que a cidade possa ter a meta estabelecida de 50% concluída.
“Esse assunto tem sido bastante polêmico nesses últimos tempos e é importante dizer o seguinte: o metrô não começa pela linha e sim pela estação. É exatamente onde vai desembocar a maioria das pessoas, onde a pessoa vai ter a oportunidade de acessar qualquer outro trem. Na rede de esgoto é a mesma coisa”, concluiu.
Veja aqui o que a Prefeitura costuma informar sobre o tratamento de esgoto:
Informações oficiais da Prefeitura de Guarulhos, comandada por Sebastião Almeida:
-São João (15%) – em operação
195 mil moradores
-Bonsucesso (20%) – em operação
260 mil moradores
-Várzea do Palácio (15%) – em operação
195 mil moradores
-Cumbica/Pimentas (20%) – obras em andamento
260 mil moradores
-Centro (27%) – projeto em detalhamento
350 mil moradores
-Cabuçu e Fortaleza (3%) – projetos em detalhamento
O que o Saae respondeu sobre o tema:
A respeito dos questionamentos deste veículo acerca de afirmações que teriam sido feitas em Audiência Pública sobre o tratamento de esgoto, a Assessoria de Imprensa do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) esclarece que estas são inverídicas e improcedentes. A propósito destas afirmações, o Saae solicitou à Câmara de Vereadores cópia da gravação em vídeo da Audiência Pública a fim de conhecer o inteiro teor das afirmações.
Coleta e tratamento de esgoto no município de Guarulhos
O Saae reposicionou estrategicamente o município em saneamento básico ao praticar um novo modelo de gestão a partir de 2001. O Programa de Tratamento de Esgoto de Guarulhos é um dos mais importantes do país. No âmbito do programa foram entregues três estações de tratamento de esgoto: São João, Bonsucesso e Várzea do Palácio. Foram executados 487,12 quilômetros de redes (incluem-se aí redes coletoras, coletores-tronco, linhas de recalque e interceptores) e realizadas 58.860 novas ligações de esgoto.
Para atingir a meta de tratar 100% dos esgotos o Saae estabeleceu em 2014 uma parceria com a iniciativa privada, na modalidade concessão administrativa.
As obras do Programa de Tratamento de Esgoto de Guarulhos são executadas pelo Saae desde janeiro de 2008, com recursos próprios e do Governo Federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Até o momento, estão destinados para esse programa R$ 495.142.688,28.
