A Alpargatas considera que a venda de ativos anunciada nesta terça-feira, 3, não tem relação com a piora no cenário econômico brasileiro, nem foi motivada por necessidade de caixa. Em teleconferência com jornalistas, o presidente da companhia, Márcio Utsch, afirmou que o negócio se justifica porque as vendas em volume dessas marcas, menores que outras da companhia, ficariam melhor “numa estrutura que suporta negócios com essa cara”. Ao mesmo tempo, a empresa espera melhorar as margens das operações no Brasil com a diminuição dos gastos referentes a estrutura das duas marcas. “A venda não tem nada a ver com balanço, temos um balanço estruturado, forte e gerador de caixa”, disse Utsch. “O fato é uma coincidência feliz de o comprador ter interesse e visão estratégica do negócio”, afirmou.
A Alpargatas anunciou ontem a assinatura de um contrato para venda de operações das marcas Topper e Rainha a um grupo de investidores liderados pelo empresário Carlos Wizard Martins, hoje também sócio da rede de franquias de alimentos Mundo Verde. A Alpargatas vai vender 100% das operações da Topper no Brasil e da Rainha no Brasil e no mundo. O acordo prevê ainda a venda de 20% da marca Topper na Argentina e no mundo. O valor do negócio é de R$ R$ 48,7 milhões, mais o equivalente a 20% do valor da operação na Argentina, que será calculado com base na aplicação do múltiplo de 6,5 vezes sobre o Ebitda efetivo de 2015.
Com a venda, a Alpargatas espera ampliar margens no negócio de artigos esportivos, que segue com as marcas Mizuno e Timberland. “Reduz as despesas com vendas, gerais e administrativas (SG&A), despesas fixas na Alpargatas, e com isso a margem melhora”, comentou Utsch. Ele afirma que a companhia mantém investimentos nos outros negócios e destacou foco na unidade de sandálias, calçados Mizuno e Timberland e as operações de varejo da Havaianas e da Osklen.
Junto com o negócio, a companhia firmou um acordo para continuar fabricando Topper e Rainha no Brasil por até 24 meses, sem obrigação de renovação. O objetivo da Alpargatas é gradualmente ocupar a capacidade produtiva das fábricas, que hoje produzem as duas marcas aqui, com a marca Mizuno. Hoje, grande parte dos produtos Mizuno são importados prontos e os resultados da Alpargatas tem sido impactados negativamente pela desvalorização do real.
A transação ainda precisa de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e seu fechamento depende também da estruturação, pela Alpargatas, de uma holding que abrigará os ativos sendo negociados. O prazo para a conclusão é de um ano, mas a expectativa da companhia é de que ele seja concluído em até menos tempo.
O faturamento da Topper e da Rainha no Brasil é estimado entre R$ 150 milhões a R$ 180 milhões até o final do ano de 2015. O montante é pouco representativo no total do faturamento da Alpargatas no mercado doméstico, que em 2014 foi de R$ 2,5 bilhões.
Sobre a possibilidade de novas vendas de ativos, o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da companhia, Fabio Leite, afirmou que a companhia considera a venda dos 80% restantes nas operações da Topper na Argentina e outros países. “O comprador atual seria candidato natural”, afirmou.
Utsch considerou que a companhia iniciou em 2013 um processo de busca de melhorias nas margens da Topper e da Rainha. Embora não revele qual é a margem atual das marcas, considerou que o trabalho foi positivo a ponto de tornar os negócios atrativos para compradores. O desafio para a Alpargatas com as marcas, disse, continuou no volume de vendas. “As marcas poderão operar com a estrutura que os compradores têm. Eles têm expertise em franquias e crescimento de negócios, um fator diferencial que conta muito a favor”, disse, sobre a Wizard.
O executivo ressaltou, ainda, que o negócio não tem relação com a intenção já anunciada do controlador da Alpargatas – a Camargo Correa – de vender participação na empresa. Em outubro, a construtora afirmou que estava analisando oportunidades estratégicas relacionadas ao seu investimento na Alpargatas.