Opinião

Alta de dólar foge ao domínio do governo


Questionado sobre a alta do dólar nos últimos dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como se vivesse fora do mundo, afirmou com toda tranquilidade que vê com bons olhos porque isso era tudo o que o setor produtivo nacional queria. Com a moeda americana valorizada, em tese, o produto nacional fica mais competitivo frente a entrada dos importados. Por outro lado, facilita a venda dos nossos lá fora. Ora, se isso fosse verdade, faria parte da política econômica do governo federal há muito tempo e não ocorreria de uma hora para outra. Para piorar um pouco mais a situação, o fato de ter fechado acima de R$ 2 pela primeira vez em quase três anos foge completamente ao domínio do governo brasileiro.


E aí que reside o problema. Como não faz parte da política de governo, dificilmente essa alta se refletirá em resultados positivos para o país. Vale frisar que quando está baixo, o governo e os exportadores ficam querendo que o dólar suba, porém quando a moeda se valoriza, não melhora, necessariamente, a exportação. A explicação é simples. Em momentos de instabilidade, os exportadores adiam o fechamento do contrato de câmbio na expectativa de que suba mais. Eles aguardam uma melhora na cotação para fechar negócios, principalmente quando a alta é reflexo de crise externa. Nestes momentos, como é agora, há sempre aumento de incertezas e dificuldades de financiamento.


Desta forma, diferente do que – de maneira até irresponsável comemora o ministro da Fazenda – se espera, nesses momentos o Brasil dificilmente consegue aumentar suas exportações. O ideal é que o dólar fique estável, num determinado ponto que remunere o exportador, proteja a indústria. Ou seja, não é necessariamente boa a alta do dólar para os exportadores. Pode produzir bons resultados para alguns e não para outros.


Na verdade, as incertezas são ruins para todos. Aqueles que pensavam viajar para o exterior ficam mais desanimados. Quem está fora do país fica na dúvida se gasta ou não. A conta turismo, que estava com déficit enorme, deve melhorar. Tudo porque essa alta não tem a ver com razões internas, mas com a crise internacional, a incerteza em relação à Europa, o medo de que a Grécia acabe contaminando outros países.

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