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Aluna de 91 anos que aprendeu a ler aos 85 ganha bolsa em faculdade de nutrição em Guarulhos

O que você acredita que pode fazer aos 91 anos de idade? Após ser alfabetizada na escola municipal de Guarulhos Crispiniano Soares, no Bom Clima, e se formar no ensino médio pelo pelo programa EJA (Educação de Jovens e Adultos), dona Iolanda Conti, por sua determinação e força, acaba de ganhar uma bolsa de estudos integral para o curso de nutrição na Universidade Guarulhos (UNG).

Incentivada pela família, colegas e professores, dona Iolanda conta que sempre teve o sonho de conseguir se formar e chegar à faculdade. Aos 85 anos, ela voltou a estudar e logo tomou gosto pelas palavras e números, que desde então fazem parte da rua rotina.

“Desde muito nova eu sempre tive vontade de fazer faculdade, admirava as moças que estudavam e gostava muito de ajudar as pessoas, inclusive ajudei alguns pacientes em um hospital, mas na época me disseram que, para continuar, eu precisaria saber ler. O tempo passou, eu me casei, criei meus filhos e eles se formaram. Depois de tantos anos chegou a minha vez, entrei na escola e fui aprender. Agora tenho mais um desafio: concluir o meu curso superior”, contou a senhora no auge de seus 91 anos.

Na EPG Crispiniano Soares, Iolanda foi aluna da professora Sônia Rogério, que a ensinou as primeiras letras, durante as aulas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Prefeitura de Guarulhos, durante a gestão passada. Sônia percebeu que a aluna poderia ir muito além. “Muitos alunos chegam com objetivos modestos, devido às inseguranças de sua trajetória, como simplesmente aprender escrever o próprio nome. No decorrer do processo, quando percebem a facilidade não só com as letras, mas com todo conhecimento que já possuem e que precisa ser organizado, além da convivência com os colegas e da descoberta de que muitos estão na mesma situação, eles se soltam, sentem-se entre os seus, aí o avanço vem naturalmente.”, explica a professora,  que já acumula 34 anos na rede municipal.

Desde as primeiras escritas espontâneas, Sônia percebia o prazer que a aluna Iolanda tinha ao falar dos pratos que preparava. “Escrever daquilo que se gosta facilita o aprendizado. A dona Iolanda já tinha muitos saberes e ao longo das aulas, ela só sistematizou para conseguir escrever. À medida que os alunos vão percebendo a capacidade de conseguir caminhar sozinhos é maravilhoso.”, completou a professora.

Depois de formada no ensino fundamental na rede municipal de 2016 a junho de 2023, Iolanda fez o ensino médio na EJA da rede estadual, na escola Padre Conrado Sivila Alsina, concluindo em dezembro de 2024.

O papel do professor da EJA é se dedicar e se comprometer a encontrar caminhos para cada aluno. Esse é o diferencial do programa na rede municipal: a importância de um olhar individualizado, que considere as especificidades de cada estudante e compreenda toda a sua trajetória de vida.

“É importante atender as expectativas dos alunos, muitos são os motivos dos adultos voltarem a estudar. Então, a EJA é praticamente um plano pedagógico individual para cada um, pautados sempre na proposta curricular QSN. Eu tenho que olhar o aluno na sua particularidade. Eu não posso olhar para todos os alunos da mesma forma, nem adulto, nem criança, só que o adulto traz uma trajetória já de um profissional, de família, de características e principalmente de expectativas, o que o aluno veio buscar.”, explica Sônia sobre processo de aprendizagem.

Para dona Iolanda, não há limites – a determinação sempre fez parte de sua jornada. Depois de uma vida dedicada aos outros, ela percebeu que havia chegado sua vez. Com essa certeza, seguiu em frente, sem permitir que nada a impedisse.

“Nunca é tarde para estudar, se você tem dúvidas sobre voltar, não tenha medo ou vergonha. Não se preocupe com roupas ou sapatos bonitos para ir à escola, vá com o que tem. Entra na EJA, pega o caderno, lápis e borracha e vai. Eu chegava do serviço e não tinha tempo nem para jantar direito, eu tinha um objetivo e fui, afinal querer é poder”, aconselhou dona Iolanda.

 

 

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